quarta-feira, 2 de junho de 2021

Armas medievais - o arco longo


Saudações, guerreiros das brumas! 

Vamos conversar novamente sobre armas...

Os Arcos existem praticamente desde que a humanidade desenvolveu alguma inteligência e foi capaz de perceber que podia explorar a imensa força elástica da madeira.


Créditos: Peter Jackson > https://fineartamerica.com/shop/prints/english+longbow


Na opinião deste humilde bardo, foram os ingleses o povo que mais dominou o uso do arco, e foram eles que produziram o melhor arco de todos, o longbow (arco longo), capaz de disparar flechas por dezenas de metros. Esta arma foi fundamental nas batalhas travadas contra os franceses na Guerra dos Cem Anos. Era de fabricação simples, o que permitiu que fosse produzia em massa, aos milhares, equipando o exército inglês.

Batalha de Crécy, uma das várias batalhas da Guerra dos Cem Anos

Se atirassem para cima, em um ângulo de 45º, os arqueiros obteriam alcance máximo (mais de 300 metros!) e as flechas quando caíssem seriam capazes de, em certas condições, perfurar armaduras e escudos, especialmente se fossem do tipo bodkin arrow (traduzido geralmente como flecha-punhal  ou, mais acertadamente, flecha-agulha). A curtas distâncias, tais flechas seriam fatais.

A principal dificuldade e limitação desta arma era o treinamento necessário para que um arqueiro se tornasse apto para disparar o longbow de maneira satisfatória para a guerra. 

Eram necessários anos de treinamento.

Naquele tempo, por decreto real, todo homem era obrigado a praticar arquearia tão logo pudesse. Desta forma, os arqueiros ingleses começavam a treinar desde criança, e iam se acostumando a atirar com arcos progressivamente maiores, até que quando adultos tivessem a força necessária para puxar a corda de um longbow - engana-se quem acredita naquele estereótipo do arqueiro como sendo um guerreiro franzino só porque ele ataca de longe. Para disparar flechas usando arcos longos era necessário ter muita força. Para se ter uma ideia, a puxada de um arco de guerra (warbow - uma versão mais poderosa do longbow usada em batalhas) podia ser de algo entre 100 e 120 libras - ou seja, puxar a corda de um arco destes até o limite, ou seja, até atrás da orelha, seria equivalente a puxar um peso de 54 quilos! Agora imagine fazer isso várias vezes seguidas, como era o que ocorria nas guerras, em que os batalhões de arqueiros tinham que fazer chover flechas sobre os inimigos...

Mais fortes que um warbow, talvez somente arcos feitos de metal e, naquela época, creio que os únicos metais maleáveis e resistentes o bastante para se fazer arcos seriam o cobre e o bronze. Porém, o cobre é maleável e deformável demais, e não creio que daria bons arcos. Assim, eu só acho plausível que fossem feitos arcos de bronze, e estes seriam extremamente fortes, tal qual o arco de Odisseu conforme descrito por Homero na Odisséia. Segundo a história, somente Odisseu era forte o bastante para manejá-lo (ao menos em Ítaca somente Odisseu era capaz... creio que Hércules também seria, assim como Jasão, Perseu, Aquiles, Diomedes e outros heróis gregos lendários...) e quando ele disparou uma flecha usando este arco, ela atravessou uma fileira de 10 cabeças de machados. Nenhum de seus desafiantes na ocasião sequer conseguiu envergar o arco. Assim, Odisseu tinha uma força excepcional e se fosse um personagem de D&D provavelmente teria FOR 18.

Em um jogo de D&D, geralmente o dano de ataque de um arco é 1d8. Quando eu acrescento na descrição da arma que na verdade se trata de um longbow eu geralmente aumento esse dano para 1d10 e assim por diante. Podemos  então, por exemplo, incrementar um pouco a descrição dos arcos que um personagem pode comprar em uma arquearia (fletcher) fazendo a seguinte tabela:





As raças pequenas - anões, halflings/hobbits e gnomos - não podem usar os arcos maiores, por conta de sua estatura e do tamanho de seus braços. Eles não conseguiriam dar a puxada máxima da corda da maioria dos arcos, de modo que não conseguiriam dar tiros usando todo o poder da arma. Caso um PJ de uma destas raças use um arco maior que um arco curto, deve haver alguma penalidade no dano e na jogada de ataque (para ilustrar que, por exemplo, ele só conseguiu puxar a corda até a metade)

Em relação à cadência de tiro, é o número máximo de tiros por turno que a arma pode realizar, independente do número de ataques a distância que o PJ seja capaz de realizar. Sendo assim, um PJ que só possa realizar 1 ataque por turno, não se aproveitará da cadência de tiro do Arco Longo, por exemplo.

Em relação ao alcance máximo, o próprio Livro do Jogador previa penalidades para tiros realizados neste alcance, o que faz sentido. Não apenas o tiro já perdeu parte de sua força, mas também a precisão se torna menor a longas distâncias. Em um jogo, geralmente essa regra só seria usada se um PJ arqueiro agisse como um sniper e tentasse acertar um alvo a partir de um esconderijo a grande distância. Outra situação seria algum cenário de guerra, no estilo do Cerco de Gondor ou da Batalha de Helm's Deep, em que um PJ guarnecesse uma muralha ou torre e disparasse flechas contra os exércitos inimigos. A penalidade para a distância tem que ser definida pelo mestre, não creio que valha a pena colocar em uma tabela padronizada.


Dito isto, guerreiros, vou me recolher à minha cabana, antes que as brumas cresçam... Até a próxima!



2 comentários:

  1. Soberba e esplêndida matéria, ó Bardo da Névoa !

    Não apenas pelos detalhes técnicos e históricos sobre a arte da arquearia como também pela referência a personagens da mitologia que foram notórios arqueiros.

    Recentemente, fiquei sabendo da existência dos "Jogos Nômades Mundiais", que reúne países da Ásia Central - região famosa por sua tradição em ter forjado célebres guerreiros da Antiguidade.
    Uma das modalidades desses jogos é uma espécie de "arco e flecha acrobático", onde lindas e charmosas arqueiras femininas dão os tiros com os pés - demonstrando, em suas exibições, equilíbrio, força, flexibilidade e precisão !

    Eis uma versão ocidental bastante fiel dessa modalidade dos Jogos Nômades (com o perdão para a musiquinha melosa no início do vídeo):

    https://youtu.be/Y_7I0GHr-nI

    Tony

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    1. Obrigado pelo comentário, Tony.
      Gosto muito de armas antigas, e acho legal pesquisar história militar especialmente a medieval. Eu até já fiz um longbow uma vez, mas infelizmente quebrou. Vou ver se me animo a fazer outro um dia desses.
      Eu já tinha ouvido falar desses jogos nômades. Bem legal!

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