sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A pior mecânica da 5ª edição

 Sinceramente não me lembro se abordei este tópico em meus outros textos sobre a infame 5ª edição de D & D. 

De qualquer maneira, mesmo que já tenha escrito sobre isto, vale a pena escrever de novo.

Na minha opinião, a pior mecânica inventada para a 5ª edição são os tais dos "Descansos". 

Existe o "descanso curto", que é um período de 1 hora (no tempo do jogo) em que o PJ não pode fazer nada muito extenuante, e ao fim ele recupera pontos de vida com base nos dados de vida.

Existe também o "descanso longo", que é um intervalo de 8 horas em que o PJ não pode fazer nada extenuante (no máximo ficar de vigia por até 2 horas), e deve dormir por no mínimo 6 horas. Ao fim desse período, ele recupera todos os  pontos de vida.

Estas regras quebram o jogo, pois o grupo de PJ acaba tendo o potencial de sair praticamente ileso de qualquer combate (ainda mais se os jogadores forem do tipo "advogado de regras"). Foi o que aconteceu comigo em uma das vezes que mestrei uma aventura na 5e: o clérigo simplesmente usou "Cura" em si mesmo, depois um descanso curto, depois usou "Cura" em um dos companheiros do grupo, e depois deu outro descanso curto, e saiu todo pimpão, 100% carregado para outro combate. (e eu sinceramente nem sei se está escrito que esses descansos permitem recuperar magias além dos pontos de vida... enfim...). 

Além disso, não faz o menor sentido, por exemplo, um guerreiro todo coberto de ferimentos, com cortes ainda abertos e sangrando, todo sujo e traumatizado de um combate quase mortal (ou seja, com 1 ou 2 pontos de vida) simplesmente dormir num acampamento (ou até num quarto de taverna) e acordar 6 horas depois como se nada tivesse acontecido.


Se o Boromir tivesse feito um descanso longo, teria sobrevivido ao ataque dos uruk-hai! Como ele não pensou nisso???

Enquanto isso, num universo paralelo: "Não se preocupe, Aragorn! Essas flechas e os ferimentos vão sumir, pode confiar! Eu só vou tirar um cochilo aqui, rapidinho, e já, já alcanço vocês! E fica tranquilo que eu aprendi a lição e não vou mais querer usar o Um Anel, não! Esse troço dá azar!"

Claro que, analisando o contexto da 5ª edição, os autores das regras estão apenas seguindo o paradigma atual, que é de fazer um jogo todo mastigado e pasteurizado (com todo respeito ao nobre Doutor Pasteur), de modo que todos sempre vençam e os PJ consigam fazer proezas dignas de super-heróis desde o nível 1. Afinal, um simples clérigo de nível 2 na 5e já consegue curar qualquer ferimento, não é mesmo?


Bem, pelo menos não estou sozinho em relação a não gostar das regras atuais. O nobre guerreiro do vídeo abaixo listou 5 razões para estar farto da 5ª edição, e os descansos fazem parte da lista, como não poderia deixar de ser! 

Confiram o vídeo:




(para ser justo, a 5ª edição inventou uma coisa boa, que foram os Cantrips... um mago de nível 1 era MUITO fraco nos tempos do AD&D, com pouquíssimos pontos de vida, só podendo usar cajado ou bordão como armas e tendo apenas 1 ou 2 "slots" de magia)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Reinos Esquecidos - Bavária



O Ducado da Bavária (também chamado de Ducado da Baviera) tem uma longa história marcada por muitas disputas pela sucessão do trono, conforme veremos neste breve artigo. 

O Ducado existia desde antes da era Carolíngia, mas seu verdadeiro brilho começou quando, no longínquo ano de 1180, o Imperador Frederico I o legou a Otto Wittelsbach, cuja dinastia governou ininterruptamente este território até 1918!

Apesar de a Bavária sempre ter estado cercada por vizinhos poderosos, a dinastia Wittelsbach conseguiu lentamente ampliar seu território através da compra de terras por seus duques. A Bavária aos poucos foi-se tornando um importante poder dentro do Sacro Império.

Porém, o costume antigo de dividir as terras entre os herdeiros acabou por criar divisões territoriais, prejudicando a autoridade do Duque com a criação dos estados da Alta e Baixa Bavárias. Conforme se afastavam umas das outras ao longo de gerações, as diferentes casas da família Wittelsbach lutavam entre si não apenas pelo domínio da Bavária, mas também pelos ducados de Brandenburgo, do Tyrol, pelos condados da Holanda, entre outros territórios que estavam sob a influência bávara. Essas "guerras de sucessão" entre as três principais linhagens da dinastia Wittelsbach foram terríveis e duraram pelo menos meio século. 

Por outro lado, as instituições civis se fortaleceram graças à prosperidade comercial das principais cidades (Munique e Regensburgo), de modo que seus cidadãos eram, de certa forma, uma ameaça à autoridade dos duques. Por isto esta foi uma época de bastante desordem, mas também de fortalecimento do espírito cívico (por exemplo, o controle das finanças municipais passou para as Assembleias Públicas - Landtag ou Landshaft - estabelecidas por volta de 1390. Não necessariamente isso foi bom, mas enfraqueceu de alguma maneira o poder dos duques - o que também não foi necessariamente bom) 


Porém, em 1450, Ludovico IX, conhecido como "o Rico", assumiu o Ducado da Bavária, e restaurou um pouco do antigo poder dos duques. Realizou reformas administrativas e no poder judiciário, e também saneou as finanças públicas. Fundou também a Universidade de Ingolstadt,  e derrotou seu rival Alberto III, príncipe-eleitor de Brandenburgo (conhecido como "o Aquiles Alemão", devido a suas proezas militares) na batalha de Giengen.  
(Um fato interessante de sua vida foi a organização do casamento de seu filho, George, com a princesa da Polônia, Hedwig Jagiellon. Este casamento, realizado na cidade bávara de Landshut (e daí seu nome Landshuter Hochzeit - "O Casamento de Landshut"), foi um dos maiores eventos do tipo realizados na época medieval, e até hoje é reencenado na cidade, a cada 4 anos, atraindo turistas do mundo inteiro, e por tradição os moradores de Landshut se vestem com roupas da época, há trupes de artistas de rua, desfiles, paradas militares, e até mesmo um torneio de Justa, todos com roupas e acessórios condizentes com o fim da idade média, reencenando as festividades, e o próprio casamento tal qual ocorridos em 1475. O próximo Landshuter Hochzeit está previsto para este ano, diga-se de passagem)


Quando Ludovico IX morreu, em 1479, o Ducado passou para seu herdeiro George, que também tinha a alcunha de "o Rico". George morreu sem herdeiros - ele teve 5 filhos, sendo 3 homens e 2 mulheres, mas nenhum dos filhos homens estava vivo à época de sua morte. Por conta das leis em vigor na época, nenhuma de suas filhas poderia legalmente herdar o ducado, e uma nova guerra pela sucessão da Bavaria estourou. Porém,  desta vez houve um vencedor incontestável: Albrecht IV, o Sábio, o qual enfim unificou toda a Bavária em 1509. Decretou que o Ducado deveria sempre passar para o filho primogênito do duque, e esta lei vigorou até 1918.

Alguns séculos depois,  durante a "Paz de Pressburgo", celebrada entre Napoleão Bonaparte e o Sacro Império Romano-Germânico após as guerras napoleônicas, vários ducados foram elevados à categoria de reinos, e a Bavária foi foi um deles (por ter lutado ao lado de Napoleão, traindo o Sacro Império). Seu primeiro rei foi Maximiliano I, o qual assumiu o título em 1806 (ele já era o duque desde 1799). O Sacro Império havia sido abolido e fragmentado em vários pequenos reinos.

O mais notório dos reis da Bavária foi Ludovico II, mais conhecido como o "rei de contos de fadas" ou "o rei cisne". 
Uma curiosa figura histórica: pagou do próprio bolso a construção de vários castelos e monumentos na Bavária, entre eles o famoso castelo de Neuschwanstein. Obviamente, mesmo seus fundos reais não eram o suficiente para financiar tantas obras, de modo que Ludovico II precisou recorrer ao erário régio e até mesmo a empréstimos de outros monarcas europeus. Suas extravagâncias arquitetônicas quase fizeram com que o Reino da Bavária fosse à falência.
Outra curiosidade a respeito deste rei: ele foi um grande admirador do famoso compositor de óperas Richard Wagner, e chegou a financiar a carreira do artista.
Seu comportamento perdulário obviamente não agradou os ministros de sua corte, que conspiraram para que o rei fosse deposto. Conseguiram com que um médico o declarasse insano, para afastá-lo do trono. Posteriormente ele foi internado à força e não muito depois foi encontrado morto em um lago, juntamente do médico que lhe assistia. Um mistério até hoje sem solução. 

O próximo na linha de sucessão seria seu irmão, Otto, porém o príncipe tinha (de fato) transtornos mentais e foi declarado inapto para a regência. Sendo assim, o trono da Bavária foi assumido por seu tio, Luitpold (um dos conspiradores da deposição de Ludovico II), que governou como regente até 1912, quando, após sua morte (por velhice) seu filho Ludovico III assumiu o trono, tendo governado até 1918, quando foi deposto por uma revolução republicana socialista, a qual acabou com a monarquia bávara e instaurou a "República Popular da Bavária", a qual existiu dentro da infame república de Weimar.