sábado, 4 de setembro de 2021

Armas Medievais - Manguais

Saudações, aventureiros e mestres!


Mais uma vez o Bardo lhes traz um pouco de conhecimento acerca de uma arma usada por nossos antepassados em suas pelejas. Desta vez lhes contarei um pouco sobre o uso do mangual, uma arma que, coitada, é muitas vezes confundida com as maças (das quais lhes falei outro dia...)




Originalmente o mangual (em inglês Flail) era um instrumento agrícola, usado para debulhar grãos (processo de separação dos grãos das hastes ou da palha da planta). Consistia de um  bastão ligado por uma pequena corda de fibra (vegetal ou animal), ou por uma corrente, a uma haste. Segurava-se a haste, que era agitada, fazendo com que fosse gerado momento e o bastão acertasse os grãos a serem debulhados. Talvez pudesse ter sido usado também para amaciar carne - batendo em uma carcaça de boi estendida e esticada, por exemplo. 




Não demorou para ser adaptado para o uso na guerra, devido ao seu óbvio efeito sobre ossos humanos. 



Muito provavelmente o mangual era usado por camponeses como arma de defesa pessoal contra invasores, pois eram utensílios que eles teriam à mão durante eventuais ataques surpresa. Creio que os manguais camponeses fossem feitos de madeira, ou se fossem no formato de bola talvez pudessem ter sido feitos de bexigas de porcos ou ovelhas "recheadas" de pequenas pedras (para ficarem pesadas) e costuradas. Depois, com a adaptação para uso militar, os manguais passaram a serem feitos de metal, sendo armas de fabricação relativamente fácil - as pontas móveis  poderiam ser feitas através de fundição, despejando metal derretido em moldes pré-fabricados. Provavelmente a parte de fabricação mais complexa seria a corrente que ligava a ponta móvel à haste, que geralmente era feita de madeira reforçada com argolas ou chapas de metal. 

Entretanto, aparentemente esta era uma arma raramente usada no meio militar, principalmente e ironicamente sua versão mais famosa (a da bola ligada a um haste por uma corrente - conhecida como "ball-and-chain", ou "maça de corrente" ou até mesmo Kettenmorgenstern (estrela da manhã com corrente)). Uma possível evidência disso é sua relativa raridade em ilustrações medievais de batalhas

Rara ilustração de um mangual de bola de ferro com corrente (kettenmorgenstern)


A principal vantagem do uso do mangual em combate era o fato de que o mesmo poderia se projetar por trás de escudos, sendo capaz de atingir combatentes protegidos, numa forma de ataque indireto. Imagino que seu uso seria mais eficaz se seu portador agisse em conjunto com o portador de outra arma de ataque direto, como uma lança, que só pode atacar em linha reta: o lanceiro ataca o inimigo, que é obrigado a levantar seu escudo para aparar o golpe, e então o portador do mangual ataca, fazendo com que a bola ou o bastão ligado à haste atingisse o inimigo por trás do escudo. 

Uma outra vantagem desta arma era seu fácil uso, o qual não exigia um extenso treinamento militar para preparar uma pessoa para manejá-la. 

Ilustração de uma revolta camponesa - notem o uso do mangual!

Porém, o principal ponto fraco do mangual era a falta de precisão. Era muito difícil mirar e acertar um ponto específico. Esta era uma arma que contava muito com a força bruta do usuário (além, é claro, do peso da ponta móvel, que quanto maior fosse, maior a quantidade de movimento gerada > lembrem-se de Q = m*v) para desferir ataques devastadores. Talvez seja esse ponto fraco o motivo para esta ter sido, aparentemente, uma arma de uso incomum.

Também por causa da fórmula da Quantidade de Movimento, eu imagino que o mangual teria seu uso melhor aproveitado na cavalaria, pois isto combinaria o peso da arma com a velocidade do cavalo, aumentando o poder de destruição. Mas este mesmo efeito seria alcançado com qualquer arma pesada, como martelos de guerra e maças,  muito mais precisas que os manguais. 

Não deve ser à toa que eu encontrei duas ilustrações de cavaleiros montados usando manguais - minha teoria faz sentido


Outra desvantagem que enxergo no uso do mangual é a possibilidade da corrente se enroscar em algum lugar durante o ataque - por exemplo, na arma de um inimigo - fazendo com que a arma possa ser mais facilmente perdida para o inimigo durante o uso. 


Em jogos de RPG, acho que o mangual seria interessante para um personagem de background humilde, como o filho de um pequeno fazendeiro ou um camponês fugitivo de um feudo, para tornar este personagem mais realista (ele não teria dinheiro para comprar uma espada, por exemplo). 

Eu nunca vi nenhum jogador usando (também nunca usei em jogo) e nem sei qual é o dano que esse tipo de arma provoca nas regras de D&D, mas eu colocaria um dano baixo (1d6 para manguais de metal e 1d4 para os de madeira, para refletir a falta de precisão da arma), mas com bônus contra escudos (talvez a jogada de ataque pudesse ignorar o bônus dado pelo escudo à categoria de armadura do oponente, para expressar o ataque indireto possível de ser feito com um mangual). Talvez se o mangual fosse pesado o suficiente e feito de ferro, eu colocasse uma possibilidade (em torno de 30%, para não facilitar muito) de o golpe quebrar o escudo do oponente (se este fosse de madeira).

Uma coisa que eu noto é que devido ao aspecto rude e tosco desta arma, ela é mais comumente empunhada por vilões nas ilustrações de livros de fantasia.

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