segunda-feira, 20 de junho de 2022

Sobre a revista "Dragão"

 Lá fora tinha (tem?) a Dragon, que aqui foi lançada brevemente pela Abril Jovem, mas não durou muito tempo. 

A revista de RPG que fez mais sucesso por aqui existe até hoje sob o título em português "Dragão Brasil", e hoje em dia é só digital e depende de financiamento coletivo (na minha opinião,  o futuro do mercado editorial de periódicos é ficar atrelado a um "apoia.se" da vida)

 Essa revista fez (e faz) a alegria de muita gente desde os anos 90 (que eu acho que foi a época do auge do RPG no Brasil)

Embora eu tenha descoberto os jogos de RPG naquela época, eu não virei leitor da revista, embora tenha tido vontade.

Vou explicar o porquê.

O problema dessa revista aqui foi que deram muita ênfase aos animes dos anos 90, mangás, etc. fazendo com que a revista parecesse focada nisso, e não em RPG. Do ponto de vista do marketing, os editores fizeram bem, pois o público dos animes era maior que o público do RPG (e eu acho que ainda é).

Porém, a maioria das capas era meio cringe (as dos EUA também eram, mas tinham várias com artes de fantasia medieval muito bem feitas), o que me fazia ter uma certa vergonha de comprar a revista.

Eu lembro de ter querido ler a Dragon Magazine por causa do encarte da editora Abril que veio no meu kit First Quest. A propaganda que veio no encarte era essa:

Capa da Dragon Magazine nº 1

Um dia saí de casa e fui até um jornaleiro, disposto a comprar a revista. Porém, a revista Dragão que eu vi na banca foi essa aqui:


Nada contra a revista em si, mas era completamente diferente do que eu esperava. Onde é que estava o cavaleiro medieval de armadura? E o dragão? E os castelos e masmorras? 

Eu nem gostava de Samurai X, e achei a capa um tanto ridícula por causa disso.

Resultado: não quis comprar.

Se o exemplar que eu tivesse visto tivesse sido ao menos um de Dragon Ball Z ou de Cavaleiros do zodíaco ou Yu Yu Hakusho (animes que eu gostava de assistir), talvez eu tivesse comprado, mas ainda assim acho que não. De qualquer maneira, eu não curtia Samurai X. Fora o fato de que eu estava esperando encontrar uma revista com uma capa de fantasia medieval, e não de anime.

Acho que quando a arte pega muito pro lado anime ela fica cringe e me afasta. Esse é um dos motivos pelos quais eu nunca quis comprar nenhum dos livros do RPG "Tormenta". 

Eu sei que (geralmente) é bobagem julgar um livro (ou até uma revista) pela capa, mas sempre fui assim. Se não curto a arte de um livro, provavelmente não me sentirei atraído por seu conteúdo. E convenhamos que a estética é algo importante: se eu posso fazer um livro que além de um conteúdo bom ainda tenha uma capa boa e agradável de se olhar e que de certa forma enfeite a estante do  dono, então porque eu optaria por uma capa feia ou bizarra? 

Por exemplo, cliquem aqui e vejam como foi infeliz a escolha da editora para a capa de "A canção de Susanah", o 6º volume da série da Torre Negra, do Stephen King (uma série bem capenga na minha opinião, bem quista por metade dos fãs da "bibliotecária velha", e odiada pela outra metade)

Sério, nessa foto ele ficou mesmo parecendo uma bibliotecária velha, ou uma tia solteirona que mora sozinha com os gatos.


Se Tormenta tivesse ilustrações mais sóbrias e sérias,  ou se fosse um estilo anime com traços não tão excessivamente "de anime", talvez eu tivesse comprado algum dos livros quando era adolescente (e era fácil encontrar Tormenta na livraria Saraiva, ao contrário de D&D). Tormenta pode ser bom e eu posso ter perdido a chance de jogar um RPG bacana por causa das ilustrações das capas? Sim, mas fazer o quê... Como eu já disse, a estética é muito importante.


Enfim, confraria do RPG Old School.... Conforme escrevi no início do post, a revista Dragão Brasil ainda existe, e está no apoia.se. Quem quiser ir lá e apoiar para ler a revista, é só clicar neste link.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

A conturbada trajetória de Gary Gygax

Achei que fosse meme, mas é real!

Saudações, aventureiros e mestres!

Aconcheguem-se perto da fogueira,  para mais uma história do bardo.

Desta vez falarei sobre outro bardo!

Contarei alguns trechos da vida de um dos maiores world builders e game designers da nossa era: Gary Gygax , o criador de Dungeons & Dragons!

Desde criança gostava de jogar jogos de tabuleiro e brincar com miniaturas, principalmente com wargames.

Começou a vida profissional numa seguradora (profissão comum "de escritório"), provavelmente trabalhando longas horas, ganhando pouco e se estressando muito. Eventualmente pediu demissão e tentou se dedicar à sua paixão por jogos de tabuleiro e jogos de guerra, mas isto não dava muito dinheiro (ainda mais para um ilustre desconhecido). Gygax teve que se virar para sustentar a família e chegou até a trabalhar como sapateiro, no porão de casa. Ao menos isto lhe garantiu uma "renda certa" que o permitiu pagar suas contas e dedicar o tempo livre ao design de jogos.

Posteriormente, conseguiu um trabalho junto à Guidon Games, onde publicou alguns jogos de guerra, como Dunkirk e Alexandre o Grande. Foi nessa época que ele criou o Chainmail, um bem sucedido war game de temática medieval que acabou servindo de embrião para D&D. 

Para quem não sabe, tudo começou com um apêndice de regras para Chainmail para jogos de guerra envolvendo elementos de fantasia. Este apêndice foi inspirado n'O Senhor dos Anéis e suas primeiras edições usavam ostensivamente nomes de criaturas, personagens e locais da Terra Média... até que a entidade que "toma conta" do patrimônio intelectual de J. R. R. Tolkien mandou que parassem... foi a partir daí que "ents" viraram "treants" e "hobbits" tiveram que virar "halflings". 

Um belo dia, Gygax saiu da Guidon Games e fundou a TSR (Tactical Studies Rules) no porão de casa. Foi nessa época (1973) que ele escreveu as regras de D&D.

Como Gygax era pobre e precisou de dinheiro para bancar a impressão das primeiras 1.000 cópias de D&D, acabou pegando 2.000 dólares emprestados com um conhecido seu, Brian Blume ,em troca de 1/3 de participação na TSR (até aí tudo bem, mas já havia indícios de que passariam a perna nele). O outro terço pertencia a Don Kaye, o co-criador de D&D.

Infelizmente, Don Kaye morreu jovem, de ataque cardíaco, e suas ações da TSR ficaram para sua esposa, Donna, a qual não compartilhava nem um pouco o entusiasmo do marido por jogos de tabuleiro, fazendo com que a mesma não fosse uma boa pessoa para se ter como sócia de uma empresa desse tipo. Era necessário comprar as ações dela para tirá-la da empresa, mas Gygax não tinha dinheiro suficiente.

Foi aí que o jovem autor foi passado para trás pelo outro "sócio", Brian Blume, o qual convenceu Gygax a permitir que seu pai, Melvin Blume, comprasse as ações de Donna Kaye. Assim, 2/3 da empresa passaram para as mãos da família Blume. Eventualmente, o irmão de Brian também comprou ações da empresa, aumentando ainda mais o controle daquela família sobre a criação de Gygax.

Apesar da situação desconfortável com os sócios, Gygax foi enriquecendo graças aos gordos royalties que recebia por suas criações na TSR. A riqueza infelizmente afetou sua vida pessoal, fazendo-o entrar no alcoolismo, nas drogas e arruinando seu casamento.

Mais tarde, Gygax recuperou o controle da empresa e contratou uma executiva profissional para geri-la, visando dedicar-se mais à parte criativa e menos à parte "business" . 

Isto acabou sendo um erro: não demorou muito para ele ser expulso da TSR pela executiva megalomaníaca que ele próprio havia contratado para limpar a casa (ela comprou secretamente as ações dos ex-"sócios" de Gygax, os Blume, para se tornar a acionista majoritária, e usou esse poder para expulsá-lo da posição de CEO e colocar várias de suas ideias "na geladeira", o que acabou culminando com Gygax pedindo demissão de sua própria empresa, apesar dos milhões de royalties que os produtos de D&D geravam anualmente... Esta manobra da executiva traidora só pode ter sido por ego, pois Gygax é quem era a grande mente criativa e força motriz do negócio... então expulsa-lo foi um belo de um tiro no pé). Nessa brincadeira, ele perdeu os direitos sobre D&D, AD&D e Greyhawk devido ao acordo que foi obrigado a aceitar por ocasião de sua saída.

Após ter sido expulso da TSR, Gygax se aventurou em outras empresas de jogos. Desta época nasceram títulos como "Lejendary Adventures" (com "j" mesmo), mas nenhum fez tanto sucesso quanto D&D (todos acabaram se tornando um "nicho dentro de outro nicho", que é o que parece ser a sina de todo sistema de RPG que não seja Dungeons&Dragons) 

Seu último trabalho foram dois livros a respeito do "Castelo Zagyg", o que era nada mais nada menos que o detalhamento do famoso Castelo Greyhawk, o qual era oriundo de sua própria campanha particular de RPG e que por muitos anos os fãs aguardavam que houvesse materiais oficiais detalhando-o. Por questões de direitos autorais, Gygax não podia publicar livros sobre o "Castelo Greyhawk", pois ele havia aberto mão dos direitos de autor por ocasião de sua saída da TSR, então trocou o nome do lugar para Zagyg (anagrama "fonético" de seu nome). Seis volumes estavam planejados, mas Gygax só foi capaz de publicar dois antes de morrer de aneurisma da aorta abdominal, em 2008, aos 69 anos.

Uma vida bastante confusa, e ao mesmo tempo muito produtiva! Mas muito curta também... 

Morreu cedo, o primeiro "Dungeon Master". Poderia estar entre nós até hoje, escrevendo aventuras. Talvez, quem sabe, tivesse conseguido reaver seus direitos...