quarta-feira, 8 de junho de 2022

A conturbada trajetória de Gary Gygax

Achei que fosse meme, mas é real!

Saudações, aventureiros e mestres!

Aconcheguem-se perto da fogueira,  para mais uma história do bardo.

Desta vez falarei sobre outro bardo!

Contarei alguns trechos da vida de um dos maiores world builders e game designers da nossa era: Gary Gygax , o criador de Dungeons & Dragons!

Desde criança gostava de jogar jogos de tabuleiro e brincar com miniaturas, principalmente com wargames.

Começou a vida profissional numa seguradora (profissão comum "de escritório"), provavelmente trabalhando longas horas, ganhando pouco e se estressando muito. Eventualmente pediu demissão e tentou se dedicar à sua paixão por jogos de tabuleiro e jogos de guerra, mas isto não dava muito dinheiro (ainda mais para um ilustre desconhecido). Gygax teve que se virar para sustentar a família e chegou até a trabalhar como sapateiro, no porão de casa. Ao menos isto lhe garantiu uma "renda certa" que o permitiu pagar suas contas e dedicar o tempo livre ao design de jogos.

Posteriormente, conseguiu um trabalho junto à Guidon Games, onde publicou alguns jogos de guerra, como Dunkirk e Alexandre o Grande. Foi nessa época que ele criou o Chainmail, um bem sucedido war game de temática medieval que acabou servindo de embrião para D&D. 

Para quem não sabe, tudo começou com um apêndice de regras para Chainmail para jogos de guerra envolvendo elementos de fantasia. Este apêndice foi inspirado n'O Senhor dos Anéis e suas primeiras edições usavam ostensivamente nomes de criaturas, personagens e locais da Terra Média... até que a entidade que "toma conta" do patrimônio intelectual de J. R. R. Tolkien mandou que parassem... foi a partir daí que "ents" viraram "treants" e "hobbits" tiveram que virar "halflings". 

Um belo dia, Gygax saiu da Guidon Games e fundou a TSR (Tactical Studies Rules) no porão de casa. Foi nessa época (1973) que ele escreveu as regras de D&D.

Como Gygax era pobre e precisou de dinheiro para bancar a impressão das primeiras 1.000 cópias de D&D, acabou pegando 2.000 dólares emprestados com um conhecido seu, Brian Blume ,em troca de 1/3 de participação na TSR (até aí tudo bem, mas já havia indícios de que passariam a perna nele). O outro terço pertencia a Don Kaye, o co-criador de D&D.

Infelizmente, Don Kaye morreu jovem, de ataque cardíaco, e suas ações da TSR ficaram para sua esposa, Donna, a qual não compartilhava nem um pouco o entusiasmo do marido por jogos de tabuleiro, fazendo com que a mesma não fosse uma boa pessoa para se ter como sócia de uma empresa desse tipo. Era necessário comprar as ações dela para tirá-la da empresa, mas Gygax não tinha dinheiro suficiente.

Foi aí que o jovem autor foi passado para trás pelo outro "sócio", Brian Blume, o qual convenceu Gygax a permitir que seu pai, Melvin Blume, comprasse as ações de Donna Kaye. Assim, 2/3 da empresa passaram para as mãos da família Blume. Eventualmente, o irmão de Brian também comprou ações da empresa, aumentando ainda mais o controle daquela família sobre a criação de Gygax.

Apesar da situação desconfortável com os sócios, Gygax foi enriquecendo graças aos gordos royalties que recebia por suas criações na TSR. A riqueza infelizmente afetou sua vida pessoal, fazendo-o entrar no alcoolismo, nas drogas e arruinando seu casamento.

Mais tarde, Gygax recuperou o controle da empresa e contratou uma executiva profissional para geri-la, visando dedicar-se mais à parte criativa e menos à parte "business" . 

Isto acabou sendo um erro: não demorou muito para ele ser expulso da TSR pela executiva megalomaníaca que ele próprio havia contratado para limpar a casa (ela comprou secretamente as ações dos ex-"sócios" de Gygax, os Blume, para se tornar a acionista majoritária, e usou esse poder para expulsá-lo da posição de CEO e colocar várias de suas ideias "na geladeira", o que acabou culminando com Gygax pedindo demissão de sua própria empresa, apesar dos milhões de royalties que os produtos de D&D geravam anualmente... Esta manobra da executiva traidora só pode ter sido por ego, pois Gygax é quem era a grande mente criativa e força motriz do negócio... então expulsa-lo foi um belo de um tiro no pé). Nessa brincadeira, ele perdeu os direitos sobre D&D, AD&D e Greyhawk devido ao acordo que foi obrigado a aceitar por ocasião de sua saída.

Após ter sido expulso da TSR, Gygax se aventurou em outras empresas de jogos. Desta época nasceram títulos como "Lejendary Adventures" (com "j" mesmo), mas nenhum fez tanto sucesso quanto D&D (todos acabaram se tornando um "nicho dentro de outro nicho", que é o que parece ser a sina de todo sistema de RPG que não seja Dungeons&Dragons) 

Seu último trabalho foram dois livros a respeito do "Castelo Zagyg", o que era nada mais nada menos que o detalhamento do famoso Castelo Greyhawk, o qual era oriundo de sua própria campanha particular de RPG e que por muitos anos os fãs aguardavam que houvesse materiais oficiais detalhando-o. Por questões de direitos autorais, Gygax não podia publicar livros sobre o "Castelo Greyhawk", pois ele havia aberto mão dos direitos de autor por ocasião de sua saída da TSR, então trocou o nome do lugar para Zagyg (anagrama "fonético" de seu nome). Seis volumes estavam planejados, mas Gygax só foi capaz de publicar dois antes de morrer de aneurisma da aorta abdominal, em 2008, aos 69 anos.

Uma vida bastante confusa, e ao mesmo tempo muito produtiva! Mas muito curta também... 

Morreu cedo, o primeiro "Dungeon Master". Poderia estar entre nós até hoje, escrevendo aventuras. Talvez, quem sabe, tivesse conseguido reaver seus direitos...



8 comentários:

  1. Uma triste história realmente. Muito disso eu não conhecia, e agradeço por ter compartilhado seus conhecimentos de bardo. Todos esses problemas infelizmente são comuns entre profissionais que atuam na área de criação: Podem ser verdadeiros visionários, mas não conseguem se organizar bem nem lidar com a questão gerencial de suas criações quando as mesmas crescem. Nesses momentos, em muitos casos as empresas vão à falência ou, não raro, os criadores terceirizam a gestão e acabam sendo passados para trás. Lamentável, especialmente a questão do alcoolismo e fim do casamento, porque afetaram diretamente sua vida profissional. Ele realmente foi o "primeiro Dungeon Master", e gostaria que tivesse tido uma história com "final feliz".

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    1. Realmente, Odin. Estes problemas são bastante comuns entre pessoas de áreas que dependem mais da criatividade (e às vezes essas pessoas infelizmente "justificam" o consumo de drogas alegando que precisam "abrir a mente". E esse negócio de um alto executivo querer roubar a empresa do verdadeiro dono é mais comum do que se imagina...o Steve Jobs também foi expulso da Apple em determinada época, por exemplo. Já dizia Adam Smith: a maior ambição do ser humano é colher aquilo que nunca plantou.
      Gygax teve um final triste, infelizmente...

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  2. Gronark, O Senhor do Sofrimento9 de junho de 2022 às 15:41

    Além de ter vido uma vida conturbada, agora meus servos na Wizard estão destruindo a imagem e o legado de Gigax! Agora todos que tentam honrar a memória do primeiro Dungeon Master são ofendidos, cancelados e tem suas vidas e carreiras destruídas pelos servos da ruina! Tudo isso graças a destruição dos pilares da fantasia e da moral da sociedade!

    No final, todos serão escravos dos poderes lacradores do CHAOS! HAHAHAHAHAHA

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    1. Sua corrupção será vencida no fim, Gronark, e com o tempo, seus servos na Wizards, serão abatidos, um a um.

      ("Poderes lacradores do Chaos" é uma ótima forma de descrever a aberração que estamos vivendo hoje...)

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    2. É, Gronark, os poderes lacradores do chaos estão mesmo causando um estrago não só nos RPGs, mas em diversas áreas ligadas à arte e à criatividade.. Repare só que muitos "artistas" têm o pensamento distorcido por seus servos... Mas vocês não perdem por esperar! O Bem sempre vence e o diabo já nasceu derrotado! Das cinzas do mundo antigo, queimado por seus servos, nascerá um mundo brilhante mais belo do que tudo o que já vimos, e o chaos será banido para as trevas exteriores além da borda do mundo, de onde nunca mais retornará!

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    3. Tu ainda deliras em plena consciência da realidade ?
      Ignoras que o Chaos exaltado pelo infame Gronark já subjugou os seus fiéis servos humanos, e que somente uma pequena parte dessa estirpe miserável é que se mantém na retidão dos princípios e adepta da decência ?
      O que uma pequena parcela de homens honrados podem diante da turba enlouquecida e degenerada dos que se degeneraram ?
      Como resistência aos poderes do Chaos, essa minoria até que poderá servir como menção honrosa às futuras gerações. Porém, saibas tu, ó Bardo, que, assim como sucedeu aos que agora são tachados de Neanderthais, os que se vangloreiam como homo sapiens, sucumbirão finalmente; não por conta da imponência das trevas, mas por sua própria submissão voluntariosa a elas mesmas.
      No fim, Bardo, toda essa tua ode esperançosa só recairá sobre uma nova espécie surgida das cinzas carcomidas da raça humana - nova espécie que sequer se avizinha ainda na aurora dessa era vindoura, mesmo para a percepção mais aguçada, ou a mais ardilosa...

      Lreuckrohr
      No exercício da Nobre Função de Cumpridor dos Superiores Decretos

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  3. Gronark, O Senhor do Sofrimento20 de junho de 2022 às 16:38

    O Bem e o Mal são mentiras e ilusões!

    A Ordem uma prisão!

    Apenas o CHAOS liberta! HAHAHAHAHAHA

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