sábado, 13 de maio de 2023

Heróis do mundo real - Dom Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal

 Saudações, aventureiros!

Após alguns meses de ausência (muito trabalho, estresse, sangue, suor e lágrimas na vida real), retorno a este recinto para novamente limpar as teias de aranha. Para os meus 8 leitores assíduos, peço que se tranquilizem, pois não é minha intenção abandonar este humilde blog RPGzístico (o qual, modéstia à parte, considero uma das poucas ilhas de sanidade em meio ao mar insano dos espaços tomados pela 5ª edição!). Só não tenho tempo para postar com a frequência qie gostaria. E, claro, nem sempre tenho inspiração para postar.


Com este post, inauguro mais uma "série" em meu blog, a dos heróis do mundo real, na qual descreverei brevemente os feitos de algumas figuras históricas que considero que foram verdadeiros heróis de nosso mundo, com foco na história militar, quando for o caso. 

Começarei esta humilde série falando sobre o rei Afonso Henriques, o fundador de Portugal e, consequentemente, já que somos filhos daquela terra, o avô do Brasil.

Uma das principais fontes de consulta a respeito de sua história é um texto do século XII, de autoria anônima, chamado "Crônica dos Godos", um texto que resume a história da Península Ibérica entre os anos de 311 a 1184. Trata-se muito provavelmente de um texto escrito com o intuito de reforçar a legitimação do reinado de Afonso Henriques, pois sua condição de rei demorou a ser aceita pelos reinados vizinhos. 



O pai de Portugal e, por conseguinte, o avô do Brasil.

Dom Afonso Henriques, nascido provavelmente no ano de 1109 de Nosso Senhor, e provavelmente na cidade de Viseu,  foi um nobre da dinastia de borgonha. Seu primeiro título foi  o de Conde de Portucale. Seu pai foi o Conde Henrique de Borgonha (Burgúndia), ligado à nobreza daquele país. 

Após a morte do pai, Afonso Henriques lutou contra o exército de sua mãe, D. Teresa, a qual era aliada dos Galegos,  para disputar a sucessão do trono, e a venceu na Batalha de São Mamede, no ano de 1128. Esta vitória consolidou sua autoridade no Condado Portucalense.  

Conforme consta da Crônica dos Godos:

"No mês de Junho, na festa de S. João Baptista, o ínclito infante D. Afonso, filho do Conde D. Henrique e da rainha D. Teresa, neto do grande imperador da Espanha, D. Afonso, com auxílio do Senhor, pela bondade divina, mais pela sua diligência e trabalho do que por auxílio ou vontade dos pais, tomou na sua mão forte o reino de Portugal

Porquanto, morto seu pai o Conde D. Henrique, como ele ainda fosse criança de dois ou três anos, alguns indignos estrangeiros usurpavam o governo de Portugal, com o consentimento de sua (dele) mãe, a rainha D. Teresa, querendo ela própria presunçosamente governar no lugar do seu marido, afastando o filho dos negócios do reino. Valente como era (tinha já bastantes anos e um bom carácter) de maneira nenhuma sofria esta afronta demasiadamente vergonhosa, tendo convocado os seus amigos e os mais nobres de Portugal, que sobremaneira preferiam o governo dele ao da mãe e dos indignos estrangeiros, travou com aqueles batalha no campo de S. Mamede, que fica próximo do castelo de Guimarães e foram destroçados e derrotado por ele, uns fugiram da sua vista e a outros mandou prendê-los. Ocupou ele o governo e a Monarquia do reino de Portugal."

A partir daí, Afonso Henriques passou a concentrar seus esforços em elevar seu Condado à condição de reino, através da expansão de seu território pela via militar e também no campo político (por exemplo, ele nunca usou o título de "conde", pois isto deixaria clara a sua relação de vassalagem para com o rei de Leão e Castela). 

Em 1139, obteve uma vitória decisiva contra os mouros na Batalha de Ourique.  Diz a lenda que, antes da batalha, D. Afonso Henriques teria tido uma visão de Jesus Cristo cercado por seus anjos, e nesta visão o Senhor lhe disse que sua vitória estava garantida.  E, de fato, as tropas de Afonso Henriques derrotaram os mouros, e esta vitória foi fundamental para o processo de independência de Portugal. Dizem que as tropas vitoriosas aclamaram Afonso Henriques como "rei dos Portucalenses" por conta desta vitória. De qualquer maneira, foi a partir desta época que ele passou a se intitular rei. Ele foi formalmente reconhecido como rei alguns anos depois (em 1143) pelo rei de Leão e Castela, através do Tratado de Zamora, e finalmente, pela Santa Sé em 1179.


O Cerco de Lisboa

O rei Afonso Henriques buscou ampliar seus domínios através das conquistas militares. O domínio do vale do Tejo (local bastante amplo e fértil) daria autossuficiência a seu reino, o que daria mais força para seu processo de independência. Para isto, era necessário reconquistar estas terras, as quais estavam sob o domínio mouro. Todos estes movimentos militares estão no contexto da Reconquista da Península Ibérica, a qual estava quase completamente tomada pelos mouros (que a rebatizaram de Al-Andalus).

Assim, no ano de 1147, Afonso Henriques inicia uma campanha que culminaria com a retomada de Lisboa das mãos dos mouros.

O primeiro passo foi a conquista de Santarém, uma cidade moura fortificada. Primeiro, enviou um emissário para estudar a cidade. Então, certa noite, protegidos pela escuridão, cerca de 45 cavaleiros escalaram os muros da cidade, mataram as sentinelas, e abriram os portões, para que o grosso das tropas portuguesas adentrassem, aproveitando-se do elemento surpresa. No dia seguinte, Santarém já estava conquistada.

Após a perda de Santarém, os mouros se agruparam para proteger Lisboa, a qual era sua principal cidade na região do Tejo. Dizem os historiadores que uma força de 5.000 mouros se reuniram na região, e as forças de Afonso Henriques eram de cerca de 1.500 homens. O embate entre as tropas ocorreu às margens do rio Sacavém, em uma antiga ponte romana. As tropas portuguesas sofreram muitas baixas, mas conseguiram matar cerca de 3.000 mouros, derrotando-os. Há relatos que as tropas portuguesas teriam sido auxiliadas por um contingente de Cruzados que estava na região. De qualquer forma, esta vitória foi considerada um verdadeiro milagre atribuído à Virgem Maria. Dizem que o próprio comandante do contingente mouro, o alcaide Bezai Zaíde, teria se convertido ao cristianismo por conta desta vitória. (Até hoje persistem dúvidas se esta batalha realmente ocorreu, sendo considerada lendária por alguns historiadores. Mas é fato que ela permeia o imaginário português e contribuiu para o fortalecimento do sentimento de nação).

Seguiu então para tentar conquistar Lisboa.

Em junho de 1147, sabendo do desembarque de uma grande tropa de Cruzados na cidade do Porto (oriundos da Inglaterra, País de Gales, Normandia, Flandres, França e Renânia), Afonso Henriques os convenceu a auxiliar as tropas portuguesas. As forças combinadas cercaram a cidade de Lisboa por 5 meses, de junho a outubro.

Finalmente, após a derrubada de um trecho da muralha e a aproximação de uma torre de cerco construída pelas tropas sitiantes, os mouros de Lisboa renderam-se, abatidos pela fome e por doenças, entregando todos os seus pertences de valor às tropas conjuntas de Afonso Henriques e dos cruzados, e retiraram-se da cidade. 

Com isso, Lisboa foi conquistada pelos portugueses e, muitos anos depois, em 1255, tornar-se-ia a capital de Portugal.


Conforme registrado na Crônica dos Godos:

Afonso Henriques lidera as tropas ibéricas no cerco de Lisboa
"O mesmo rei de Portugal D. Afonso, no décimo nono ano de seu reinado, revestido de audácia e valor, atacou corajosamente, com alguns poucos dos seus, o castelo de Santarém, confiado no auxílio divino e recuperou-o para si e para a Cristandade, tendo matado e expulsado dali os Sarracenos que nele habitavam. Por vontade de Deus se deu este acontecimento a 11 de Maio, ao cantar do galo, ao amanhecer de um sábado. 
E no mesmo ano, no mês de Julho cercou Lisboa. 

Em seu auxílio, e por obra da bondade divina que do alto céu a tudo provê, veio súbita e inesperadamente das partes das Gálias, e conduzido por mão divina, um grande número de navios.
Grandemente confiado neste auxílio, cercou a cidade durante cinco meses, atacando-a e assaltando-a valentemente por terra e por mar, não permitindo que ninguém saísse ou entrasse. Finalmente, porém, a 24 de Outubro, numa sexta-feira, ao meio-dia, tomou a cidade na sua mão forte e extenso braço com o auxílio da piedade divina e ajuda do Senhor Jesus Cristo, tendo sido expulsos dali os Sarracenos.

E em épocas e anos diferentes tomou os fortíssimos castelos de Sintra, Almada e Palmela, e com os seus guerreiros conquistou-os para si e para a Cristandade."







4 comentários:

  1. Salve, nobre bardo! Fico feliz em ver novamente seus trabalhos. Me lembro, muito vagamente, de estudar um pouco sobre Dom Afonso Henriques décadas atrás, quando era apenas um garoto. Foi uma história que me chamou a atenção na época, enquanto a professora de história explicava um pouco sobre sua vida. Na ocasião, o objetivo dela era mostrar que Portugal também teve grande reis e figuras ilustres.

    De qualquer forma, essa é uma ótima ideia para postagens; mostrar a história de grandes personagens de nossa história. Deixo minhas sugestões de que, quando possível, exploremos aqui a história de Carlos Magno, Carlos Martel, Valdmir o Grande, etc...

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    1. Obrigado, nobre Odin. Tem épocas em que a "vida real" exige mais de mim (trabalho, família, projetos paralelos) então acabo tendo que abrir mão de postar aqui. Fora o fato de que nem sempre estou inspirado.

      Em relação ao post, eu particularmente acho importante resgatar a história portuguesa e espanhola (afinal, são o nosso elo com o medievo), as quais considero que são amplamente ignoradas no estudo mais mainstream de "História Geral", acredito que por conta de pelo menos 2 séculos de propaganda anti-ibérica por parte dos ingleses, franceses e holandeses (que fizeram de tudo para sabotar seus "concorrentes" nas Grandes Navegações). Portugal, então, apesar de sua importância no contexto das grandes descobertas do século XV, quase não é citado nos textos mais comumente lidos de história, fora em outras mídias (por exemplo, demorou uns 20 anos pra microsoft criar vergonha na cara e colocar os portugueses como civilização jogável no Age of Empires II)

      Futuramente haverá posts sobre Carlos Magno, Carlos Martel, e por aí vai. Pode deixar!

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  2. Gronark, O Senhor do "Amor"18 de maio de 2023 às 16:35

    Está desperdiçando seu tempo narrando essa histórias "desatualizadas", Bardeco! A história está sendo "atualizada" para as sensibilidades modernas! Um exemplo perfeito disso é o documentário da Netflix sobre Cleópatra, que é uma mulher negra, forte, independente, guerreira jedi e mestra em administração. Tudo isso ignorando evidências históricas e o puro bom senso. No próprio documentário, os "especialistas" dizem que "Cleópatra era negra porque a "avó" de uma "entrevistada" disse isso isso. Outro disse que pode se "identificar" ao imaginar Cleópatra do jeito que ele quer, afinal, tudo isso não passa de uma pura panfletagem identitarista. Sem falar que os produtores do documentário ofenderam o povo Egípcio chamando-os de racistas por não aceitarem a visão "americana-progressista" da rainha do Egito. Tudo isso em nome do Amor! HAHAHAHAHAHA

    (O revisionismo da história tá indo a todo vapor. Isso ai da Cleópatra é por causa que lá nos EUA, os progressistas estão defendendo a teste que a população do Egito seria um bando de "colonizadores" que expulsaram os nativos e que os negros americanos devem ir para lá expulsar os "invasores'. O pior é que os americanos não tem um pingo de vergonha de ofenderem a história e a população egípcia. Vou deixar um vídeo do Metatron comentando dobre isso. Uma coisa importante, o canal dele foi desmonetizado depois de ter criticado, com educação e argumentos baseados em evidências históricas.)

    https://www.youtube.com/watch?v=ZkNMaKk54Zg

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    1. Demônio fétido, até quando irá insistir em seus erros? Não importa o quanto seus lacaios tentem falsificar a história, a Verdade sempre prevalecerá!!

      (eu ri na parte do "mestra em administração"! Fiquei sabendo por alto essa história do Metatron. Uma pena, o conteúdo dele é bom demais! Tomara que ele consiga recuperar a monetização ou então encontre outra plataforma mais justa. Essa coisa de revisionismo histórico é uma arma bem antiga. Por exemplo, é o caso da propaganda anti-ibérica promovida pela Inglaterra, Holanda, etc para transformar principalmente os Espanhóis em sub-humanos perante os povos destes países. Mais recentemente, estou vendo também um esforço por parte do governo chinês em emplacar a narrativa de que os chineses foram os verdadeiros descobridores de todos os continentes e que desde muito antes dos europeus já davam a volta ao mundo em seus navios de junco. Pra mim é balela, mas é um exemplo do que quero dizer: o grupo mais forte tende a querer controlar a história para apagar seus erros e superestimar seus acertos, ao mesmo tempo em que exagera os erros de seus adversários e diminui seus méritos)

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