domingo, 28 de maio de 2023

Resenha - "I, Strahd, The Memoirs of a Vampire"

Acho que toda empresa ligadas às artes em geral, especialmente literatura e cinema, precisa estar sempre lançando novos produtos, e produtos bastante variados, para manter seu lugar ao sol. No caso das empresas do mercado de RPG, creio que a saudosa TSR (sucedida pela atual "Weaks of the Coast", ou como os colegas de blogosfera RPGzística já estão chamando, "Warlocks of the Coast") foi a que chegou mais longe em termos de diversificação. Além dos diversos cenários de RPG (Greyhawk, Forgotten Realms, Mystara, Birthright, Dark Sun, Dragonlance e, é claro, Ravenloft), a empresa também lançou livros de literatura fantástica baseados nos mundos de seus cenários de RPG. Acho que todo cenário teve pelo menos uma série de livros de fantasia baseados neles (exceto, talvez, Mystara, mas não tenho certeza quanto a isto). 

Claro que tais livros foram escritos puramente para fins comerciais ("cash-grab" é o que me vem à mente), embora sempre possa haver a justificativa de servirem como materiais auxiliares aos Mestres de jogos (para auxiliá-los na imersão, para detalhar mais os mundos e seus personagens, etc.), e tais livros de fato serviram a este propósito (e acho que ainda servem, pelo menos para os jogadores que mantém acesa a chama do old school). Claro que não se poderia esperar encontrar Alta Literatura neste âmbito, mas obviamente há livros bons a serem encontrados e lidos.

Ravenloft teve uma tiragem razoável de romances ambientados no semiplano do pavor: de 1991 a 1999 foram publicados 20 livros. Atualmente alguns foram reeditados e podem ser encontrados à venda até mesmo para o kindle (porém com capas com artes new school, bastante inferiores às originais). Os que não tiveram reedições se tornaram peças raras, e são encontrados à venda no e-bay por preços salgados, e raramente são vistos no Mercado Livre, mas por preços exorbitantes ("Trato Feito" e outros programas semelhantes foram um desastre para os colecionadores brasileiros...).

Recentemente li um destes livros e resolvi escrever esta breve resenha.



"I, Strahd - The Memoirs of a Vampire" é um livro publicado em 1993 (30 anos atrás!) escrito por P.N. Elrod (autora de diversos livros de vampiro nos anos 90), majoritariamente em primeira pessoa, na forma do diário pessoal do Conde Strahd von Zarovich, o principal personagem de Ravenloft. O propósito do livro foi dar mais luz ao passado do terrível vampiro e com isso proporcionar um background mais complexo tanto para o personagem quanto para a terra de Baróvia, o primeiro domínio de Ravenloft.~

=~=~=~=~=~=~=~=SPOILERS~=~=~=~=~=~=~=~=

A história começa com o Dr. Rudolph van Richten, um herói recorrente nas aventuras situadas no semiplano do pavor, invadindo o castelo de Ravenloft para tentar descobrir mais informações a respeito do terrível Conde Strahd, o qual estava desaparecido há quinze anos. O velho herbalista suspeitava que o senhor de Baróvia fosse uma criatura sobrenatural e sobre-humana, mas não tinha certeza sobre que tipo de criatura ele poderia ser.  Também não se sentia confortável utilizando somente as informações disponíveis nos contos folclóricos do povo baroviano para tentar descobrir uma fraqueza ou alguma outra maneira de maneira de vencer o Conde. Desta forma, deu um jeito de invadir o infame castelo para tentar reunir informações de primeira mão a respeito da natureza do senhor de Baróvia. Adentrando a biblioteca, ele encontra um livro que havia sido deixado sobre a mesa, e ao lê-lo, vê que tratava-se do diário do próprio Conde Strahd. 

A partir deste ponto, lemos a história em primeira pessoa, sob a perspectiva do vampiro.


O diário começa alguns anos antes de sua transformação. Strahd era um conquistador, de uma linhagem nobre, que já estava lutando há muitos anos uma guerra para reconquistar a terra de seus ancestrais - Baróvia - a qual havia sido tomada por uma nação inimiga.  A guerra já estava no fim, e o exército de Strahd já havia derrotado o líder de seus inimigos e se apossado de sua última fortaleza (a qual viria não muito depois a se tornar o castelo Ravenloft).

Vemos desde já que, mesmo quando ainda era humano, Strahd já era um governante impiedoso: protegia militarmente seus súditos (como era a obrigação dos senhores feudais e reis na vida real), mas não tolerava aqueles que ousavam quebrar sua lei, sendo especialmente rigoroso quanto à cobrança de impostos - há uma cena em que ele vai pessoalmente com seu Estado-Maior em uma das cidades barovianas para coletar os impostos, e seu auditor analisa os registros e informa que estava faltando dinheiro, mesmo levando em conta a colheita ruim do ano anterior. O burgomestre titubeia e gagueja, e Strahd percebe que ele está vestido em roupas extremamente luxuosas, e que sua casa era um verdadeiro palacete diante das cabanas humildes do resto do povo daquela cidade. O Conde ordena então que o burgomestre tire suas roupas luxuosas, deixando-o só de ceroulas, e manda seus oficiais entrarem em sua casa e recolherem o que havia de valor para compensar o valor que faltava de imposto. Por fim, após esta humilhação pública, o burgomestre é decapitado para servir de exemplo.

Outra característica explorada no livro (e que contribui para um ponto chave da história) é o grande interesse de Strahd por magia. O Conde dedica parte de seu tempo, entre os afazeres governamentais, a procurar livros de magia e estudá-los. Porém, como não dispõe de tanto tempo assim, é um mago sub-mediano, conhecendo uns poucos feitiços (porém o suficiente para impressionar seus companheiros de batalha, os quais são completamente ignorantes no assunto).

Um belo dia, Strahd recebe em seu castelo seu irmão mais novo, Sergei von Zarovich, o qual estava destinado a ser um sacerdote (conforme o costume daquele mundo, o irmão do meio, Sturm von Zarovich, virou administrador das propriedades do pai. O filho mais velho, Strahd, seguiu a carreira militar, e o mais novo se tornaria um sacerdote). 

Devido à diferença de idade, Strahd sente um vago ressentimento, pois percebe que perdeu sua juventude envolvido em guerras quase sem fim (neste ponto da história ele está na casa dos quarenta e poucos anos de idade), enquanto seu irmão mais novo estava na flor da idade (Sergei estava na casa dos vinte e poucos anos), com toda a vida pela frente e ainda  com toda a força de sua juventude. Strahd começa a temer a chegada da velhice e a própria mortalidade. Isso também vai se tornar um ponto de extrema importância para a história. 

Após passar uma noite em uma pequena cidade próxima do castelo, Sergei conhece uma bela camponesa e se apaixona por ela, abandonando seus votos do sacerdócio e decidindo imediatamente casar-se com ela. Strahd acha aquilo um absurdo, um escândalo que traria desonra para sua família (afinal, não só Sergei abandonou seus votos religiosos, como também estava prestes a se unir com uma reles camponesa), até o dia em que Sergei traz sua amada ao castelo. Naquele dia, o coração de Strahd é fisgado pela belíssima Tatyana, e isso lhe causa grande tormento, pois a camponesa só tinha olhos para seu irmão, e tratava o Conde como alguém velho demais para despertar qualquer interesse amoroso (inclusive chamando-o, respeitosamente, por alcunhas como "mestre", "senhor", "patriarca", etc.). O casamento dos dois seria em breve, e isso atormentava sobremaneira o coração do Conde.

Eventualmente, a paixão de Strahd por Tatyana supera seu amor fraterno por Sergei, e o Conde começa a procurar por meios mágicos de conseguir roubar o coração da bela camponesa. O destino põe em suas mãos um livro macabro, através do qual os desejos sombrios em seu coração invocam uma entidade sobrenatural que lhe garante conseguir conceder o seu desejo. Strahd pede à entidade (a qual ele chama de "Morte", embora a entidade em nenhum momento revele seu nome) para torná-lo imortal, imune à velhice, e que lhe concedesse o amor de Tatyana; a entidade lhe promete que ele não envelheceria mais um dia sequer e que teria o coração da camponesa se cumprisse o ritual. Qual ritual, ela não diz, mas garante ao Conde que não é nada que esteja fora de seu alcance. 

Acontece que o principal general do exército (e braço-direito) de Strahd, Alek, ouviu a conversa de seu senhor com a entidade sobrenatural. Strahd percebeu isso, e não teve outra escolha a não ser matar seu general, temendo que o mesmo revelasse aos outros nobres seu pacto com a Morte. Um rápido duelo acontece, e ambos são mortalmente feridos. Strahd ouve a voz da Morte lhe dizendo para beber o sangue de Alek, e ele obedece. A partir daí começa sua transformação em um vampiro. Consumindo o sangue de seu general, Strahd se recupera de seus ferimentos mortais e entende que aquilo fazia parte do ritual. Em seguida, no dia do casamento, ele mata seu próprio irmão Sergei quando os dois estão sozinhos, e também bebe seu sangue, completando sua transformação em vampiro. O Conde percebe sua transformação, mas ainda não a compreende completamente. 

Não demora muito para o corpo de Sergei ser descoberto, provocando um grande escândalo entre os guardas, mas Strahd conseguiu fazer com que parecesse um assassinato político (e já planejava colocar a culpa em um dos nobres). Aproveitou a ocasião para dar as más notícias a sua amada Tatyana, e usaria a oportunidade para seduzi-la. Com seus poderes vampíricos, consegue hipnotizá-la e fazê-la apaixonar-se por ele. 

Foi neste momento que as Névoas retiraram Baróvia do mundo natural e a selaram no semiplano do pavor.

Tudo estava indo conforme o desejo de Strahd. Ele já tinha a vida eterna e o coração da mulher amada. Sua vitória parecia completa. Porém, o amor que Tatyana sentia por Sergei era muito mais forte, e seu "amor" pelo Conde Strahd não durou mais do que alguns minutos. Desesperada, Tatyana se joga no abismo, desaparecendo em meio à névoa.

Ao mesmo tempo, um complô para destronar Strahd, conduzido por Leo Dilisnya, um traidor na corte, começa a ocorrer. Os convidados do casamento que eram leais à família von Zarovich morreram envenenados, e as tropas de Dilisnya tomaram de assalto o castelo, matando muitos dos soldados leais a Strahd. O Conde, agora um vampiro, estava tão perturbado com o suicídio de sua amada que demorou a reagir. Porém sua reação foi mortífera. Organizou os poucos homens que lhe restaram e usou seus novos poderes para sobrepujar os invasores. Perseguiu os traidores, mas não conseguiu nesta ocasião matar seu líder, Leo Dilisnya.

Após isto, o diário relata a adaptação de Strahd a sua nova "não vida" vampírica, as adaptações que precisou fazer em seu castelo, a liberação de seus soldados de seu serviço (ele não queria se alimentar de seus velhos companheiros de guerra), e principalmente sua busca incessante pelo corpo de Tatyana, o qual nunca foi encontrado. O diário também revela que Strahd sabe que é um prisioneiro em sua própria terra, e que as Névoas não lhe permitem sair.

Mesmo sendo um vampiro e governando seu povo à distância (pois se se entregasse à sua fome, não demoraria muito para que não sobrasse ninguém em Baróvia), Strahd não deixou de aplicar rigorosamente sua lei e nem de cobrar impostos. Ele ainda precisava de dinheiro para, principalmente, adquirir livros de magia. Agora como um imortal, ele teria bastante tempo para estudar e adquirir conhecimentos mágicos que um dia lhe permitiriam, talvez, escapar de sua prisão.

Outro aspecto importante de seu tormento, do qual Strahd adquire ciência conforme os eventos vão se desenrolando: em sua vida eterna ele está amaldiçoado a sempre encontrar uma reencarnação de Tatyana e perdê-la novamente, e sempre de uma maneira trágica e repentina. Assim, outra motivação para encontrar uma saída de Ravenloft é poder libertar sua amada Tatyana deste ciclo aparentemente infindável de tragédias.

=~=~=~=~=~=~=~=FIM DOS SPOILERS~=~=~=~=~=~=~=~=

Enfim, conforme escrevi antes, esse livro não é nenhuma obra-prima, mas é um livro interessante e divertido,  que serve para distrair e nos inspirar a escrever aventuras de RPG ambientadas em Baróvia ou em qualquer cenário com uma abordagem mais gótica.

Os tropos góticos que vemos neste livro:

- a decadência e corrupção moral de Strahd, motivada pelo medo da própria mortalidade e da velhice, o que o conduziu ao fratricídio;

- o castelo Ravenloft, que se tornou o típico castelo gótico após a transformação de Strahd em vampiro (embora não haja uma boa descrição do castelo, fica subentendido que ele se tornou um verdadeiro castelo do terror, com masmorras, guardas mortos-vivos, etc.);

- a própria transformação de Strahd em vampiro, com todos os elementos comuns: habilidade de se transformar em morcego e em lobo, a necessidade de se alimentar de sangue de criaturas vivas, a fraqueza contra a luz do sol e contra símbolos sagrados, a fraqueza contra a fé, etc.

- A existência de uma maldição, não só sobre o personagem principal,  mas sobre toda a terra, em decorrência dos atos malignos de Strahd.

Mas, apesar de tudo, não considero que este seja realmente um exemplo de literatura gótica: está mais para um livro de fantasia com alguns elementos góticos, assim como a maior parte do que foi escrito para Ravenloft. 

7 comentários:

  1. Uma história trágica, mas um livro magnífico, que traz uma grande lição em suas páginas. Para mim, este sempre foi o ponto-chave de Ravenloft: uma pessoa pode acumular poder, riqueza ou o que quer que deseje, mas se obtiver isso por meios escusos, estará eternamente aprosionado no seu desejo; ao contrário daquele que, por uma razão ou outra, não consegue o que quer e passa a vida sonhando em como seria as coisas se tivesse obtido sucesso, os Dark Lords the Ravenloft descobrem tarde demais que seus desejos não trouxeram paz ou satisfação alguma. Muito pelo contrário, e eles teriam toda eternindade para remoer essa angústia de ter aquilo que obsessivamente desejavam, mas não da forma como imaginavam.

    Me lembro inclusive de uma passagem do livro As Crônicas de Nárnia, onde Aslam diz que as pessoas geralmente conseguem no fim aquilo que tanto queriam, mas que isso geralmente não os satisfaziam.

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    1. Salve, Odin!

      De fato podemos tirar estas lições deste livro. Como o desejo obsessivo por alguma coisa pode nos arruinar, principalmente quando passamos por cima da moral e da ética para conseguirmos aquilo que desejamos. Para muitas coisas, é melhor fracassar, mas manter a honra e moral íntegras, do que triunfar, mas perder a alma.
      Ravenloft inteiro é sobre isso, sobre as consequências negativas dos desejos obsessivos e sobre como o mal corrompe não só as pessoas, mas o ambiente a seu redor.

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    2. Exatamente, Este é o grande mérito e valor do cenário. Eu não gosto de terror como um gênero em si, mas para mim é impossível não gostar de Ravenloft.

      E aproveitando, gostei bastante do "Weaks of the coast". Muito apropriado...

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    3. Eu gosto de pensar em Ravenloft mais como um cenário "dark fantasy" do que horror propriamente dito. Como horror, histórias de vampiros, lobisomens, etc. foram superadas, tendo em vista que a humanidade vai se acostumando e se tornando insensível a estímulos mais extremos (claro que não é impossível acrescentar elementos de outras coisas para restaurar o terror dessas histórias).

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  2. Gronark, O Senhor do "Amor"29 de maio de 2023 às 10:49

    Não é necessário buscar materiais literários de tempos retrógados, Bardeco! Meus servos na Warlocks of the Coast "atualizaram" os cenários de Ravenloft, Dragonlance , Forgotten Realms e Spelljammer para os "valores" modernos! Veja como os domínios das brumas agora é um local extremamente seguro e inclusivo, com os poderes sombrios sendo perks positivos para os personagens e o próprio Strahd sendo um "vilão" incompreendido que pertence a comunidade "hdtv". Afinal, o personagem não pode ser um "vilão" se pertencer à alguma minoria que apoia toda agenda progressista do "amor", HAHAHAHAHAHA

    Devo também falar sobre Dragonlance da 5e, que "literalmente" apagou TODOS os romances de Tracy Hickman e Margaret Weis, que praticamente CRIARAM o cenário e o tornaram popular. Tudo em nome de uma "inclusão e diversidade" artificial em nome do "amor". HAHAHAHAHAHAHA

    Forgotten Realms também já foi "higienizado" ao ponto do criador do cenário "Ed Greenwood" não ser mais creditado, e Salvatore, que criou a mitologia dos Drow em D&D, ter que "adequar" suas histórias para ser mais "inclusivo", e mesmo assim passaram por cima e refizeram os elfos sombrios, que agora são seres "incompreendidos", a prova absoluta de que o "amor venceu o ódio", HAHAHAHAHAHA

    O cenário de Spelljammer nem vale falar muito, meus servos não se esforçaram ao criar o livro. Praticamente apagaram e refizeram tudo de forma porca, com uma pseudo-skin de Flash Gordon (que foi a única coisa quase-boa do livro), mas falharam em aplacar meus escravos no twitter que cancelaram o cenário por acharem que os hadozee são baseados numa etnia real. É bom que meus servos sejam burros, pois posso encher a cabeça deles de "amor", HAHAHAHAHAHA

    (Os livros de histórias de D&D eram muito bons antigamente. Não era uma literatura épica, mas conseguia entreter e inspirar novas histórias, além de ajudar na imersão dos jogos. A coleção do meu irmão inclui as novels também e devo dizer que são ótimas, mesmo as mais fracas conseguem entreter, diferente da literatura de fantasia "jovem, hdtv e orc smut" de hoje.

    Eu particularmente sou mais apegado as histórias de Dragonlance, por serem mais clássicas e originais ao mesmo tempo. Por isso acho que o que fizeram com o cenário na 5e algo criminoso ao apagar todos livros. Eu quero até ver se agora vai sair do papel a ideia da série de Dragonlance, porque o filme foi um flop e o Tanis não vai poder ser "meio-elfo", porque agora é racismo fazer personagens "mestiços".

    Dos livros de Ravenloft, eu acho o "Knight of the Black Rose", que mostra o Lord Soth, o mais legal, porque introduz aquela ideia de "monstro vs monstro" e são vilões clássicos e não os "incompreendidos" de hoje em dia. Tanto o Strahd quanto o Soth sabem o que são, o porque são e não se arrependem, pelo contrário, eles "dobram a aposta" nas ações deles se condenando cada vez mais. Mesmo assim eles tem um carisma enorme, tanto que vários vilões clássicos tem um carisma que hoje não se tem mais, como o humor sombrio do Freddy Krueger, a obsessão do Arthas Menethil, a loucura do Coringa, a presença imponente do Darth Vader e por ai vai.

    Uma história que gostei também foi a série do "Prism Pentad" de Dark Sun, o engraçado é que meu irmão e o Thiago mestraram uma campanha baseada nessa série. A diferença é que a gente tomou as piores decisões possíveis e a campanha teve um final "ruim" para o cenário e "ótimo" para dois jogadores (um que virou o rei feiticeiro de Tyr e o outro que virou o novo Dragão de Athas).

    Já os livros de Faerun, eu gostei de alguns e outros achei razoável. Um que me deixou bem divido foi o "Elminster in Hell". Eu gostei muito do o Elminster se ferrando em Baator, mas não gostei do Halaster ser esculachado. As histórias do Salvatore também são legais, mas tem um defeito. O Drizzt vira praticamente um "Gary Stu" insuportável enquanto o Wulfgar é humilhado de todas as formas. Minha alegria foi ler o Drizzt levar uma surra do Obould Muitas-Flechas no "Thousand Orcs", mas depois da trilogia ele ficou mais poderoso e insuportável do que nunca.)

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    1. Apesar de seus cultistas terem execrado tudo nos cenários clássicos de D&D, eles jamais serão capazes de apagar a história, Gronark. E muito em breve eles serão caçados expostos não apenas por nós, "soldados de celéstia", mas também pelos residentes "ultra-conservadores" de Baator. Os dias de sua laia no poder estão contados.

      (Eu infelizmente li muito pouco dos "clássicos" do AD&D em minha época, tendo ficado limitado aos livros de Salvatore, alguns poucos livros de Ed Greenwood e à trilogia clássica de Dragonlance. Obras das quais gosto bastante.

      A questão de Drizzt é como você mencionou. É um bom personagem, mas a forma como Salvatore trabalha ele nas histórias é insuportável. Eu me pego sempre torcendo para que ele perca uma batalha, e também fiquei feliz ao ver Obound dando uma surra nele. Mas não adianta. Para Salvatore, o mundo gira em torno de Drizzt e a cada novo romance ele fica cada vez mais irracionavelmente poderoso. Na última trilogia, ele superou Zaknafein (seu pai e homem que o treinou) e empatou com o Grande Mestre Kane que o treinou nas artes do monge (sim, Drizzt agora é um monge implacável também), sendo que Kane é praticamente um semi-deus.

      A questão de Wulfgar é ainda mais delicada. Salvatore se arrependeu de casar o personagem com Catti-brie porque queria que ela fosse a esposa de Drizzt (afinal todas as mulheres do mundo precisavam amar o drow). Ele decidiu assim começar a desmoralizar Wulgar para que os fãs começassem a perder a simpatia por ele, e planejou matá-lo definitivamente para deixar Drizzt e Catti-brie juntos. Os editores, no entanto, não aceitaram, e por birra, Salvatore se dedicou a desmoralizar cada vez mais o bárbaro.

      Foram atitudes lastimáveis, especialmente vindas de um escritor talentoso como ele. Mas mostram o quão importante é que o escritor não se projete/identifique demais em relação a suas criações).

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    2. Literatura jovem hoje em dia está cada vez mais boba e apelativa. Vivemos mesmo uma crise de criatividade em praticamente todas as áreas da arte!
      Eu não li e nem quero ler nada de Ravenloft da 5ª edição. Para mim tudo o que está nessa versão nova não é canônico, é apenas delírio dos editores ávidos por arrancar dinheiro de trouxa...
      Também nunca li nada do Drizzt, só conheço o personagem, mas pelo pouco que vi ele me parece mesmo ser um "gary sue".

      Quanto à falência criativa, se vocês verem no web archive como era o site de D&D da Weaks of the Coast nos anos 2000, verão como a empresa decaiu de lá para cá. A quantidade de material GRATUITO que eles disponibilizavam era absurda, e tinha muito mais variedade de coisas no site.

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