sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Criando Domínios e Dark Lords em Ravenloft

Saudações aventureiros!

O grande diferencial de Ravenloft, que torna este cenário único, é a estrutura do Semi Plano do Pavor, uma verdadeira colcha de retalhos multi-dimensional, onde cada Domínio é como se fosse um pequeno "Purgatório", e cada um tem o seu "diabo" que é ao mesmo tempo encarregado e prisioneiro do domínio.

(Aliás, por causa desta característica  eu me pergunto se os autores responsáveis pelo cenário não teriam se inspirado nos vários círculos do inferno,  conforme descritos n'A Divina Comédia, de Dante)

Os domínios são criados no momento em que aquele destinado a ser um dark lord comete um crime horrível o bastante para chamar a atenção dos Poderes Sombrios (entidades extra-planares misteriosas e indefinidas, que gozam de algum grau de onisciência, pelo menos para atos de maldade), os quais o transportam quase que instantaneamente para o Semi Plano do Pavor, para uma terra "feita sob medida" para o recém-nomeado senhor do novo Domínio. 


Geralmente os Domínios são pedaços da terra natal do dark lord que foram arrastados juntos com ele para Ravenloft - inclusive com alguns habitantes que "entram de gaiato" na terra de sombras que é o semi plano das brumas. Nem todos são vítimas inocentes: alguns foram levados junto por terem sido apoiadores ou seguidores do dark lord em sua terra natal, por exemplo.


É normal que essas pessoas percam as memórias do "plano normal" de onde foram arrancadas e com o passar do tempo passem a pensar que "as coisas sempre foram assim", "sempre houve essa imensa parede de névoas no horizonte", e por aí vai, ignorando até mesmo o fato de que o dark lord não envelhece nunca, ainda que as próprias pessoas normais estejam envelhecendo normalmente e até morrendo, enquanto o dark lord não muda nada.


Quanto aos Domínios em si, podemos dizer que cada Domínio reflete alguma coisa de seu dark lord, ou de sua maldição. E o dark lord geralmente tem controle sobre as fronteiras, podendo abri-las e fecha-las conforme sua vontade, e alguns exercem controle sobre determinados tipos de criatura no Domínio, ou sobre as forças da natureza, dependendo do tipo de ser que cada dark lord é, e que poderes possui.


Conforme as regras do livro Domínios do Medo, o mestre do jogo pode criar domínios além dos considerados canônicos, seguindo as seguintes regras básicas:

- um Domínio precisa ter um Dark Lord

- o dark lord deve ser muito poderoso, seja por conta de suas próprias habilidades, seja por conta de alguma "proteção" que os Poderes Sombrios lhe concederam (geralmente alguma magia ligada ao Domínio que torna o dark lord potencialmente imortal, mas ao custo de grandes tormentos existenciais). Por exemplo, Strahd von Zarovich, o vampiro de Barovia, é um necromante nível 18. Meredoth, o mago que domina o Mar das Mágoas, é um arcano de nível 20. O doutor Mordenheim e sua criatura, o golem de carne Adam, são imortais, capazes de se regenerarem se mesmo uma só célula de seus corpos sobreviver, e por aí vai.

- o dark lord precisa ser um prisioneiro de seu domínio, em virtude de algum grande crime que cometeu e atraiu a atenção dos Poderes Sombrios. Ele não é capaz de sair, e poucos são aqueles que têm alguma pequena chance de quebrarem suas maldições.

- os personagens dos jogadores (bem como os NPC) devem ter muitas dificuldades para sair do domínio (geralmente o dark lord exerce controle sobre as fronteiras de seu domínio e impede pessoas de saírem; muitos domínios só dão saída para um mar labiríntico de névoas; e a maioria dos domínios só dão saída para outros domínios. É realmente muito difícil sair de Ravenloft)

- o dark lord precisa ter algum tormento/castigo/maldição  relacionado ao crime que o trouxe a Ravenloft, numa forma de "justiça poética" (por exemplo, o Conde Strahd von Zarovich cometeu seus crimes e tornou-se um vampiro para conseguir conquistar Tatyana, sua amada. O seu tormento em Ravenloft era estar destinado a nunca conseguir Tatyana, nem mesmo em nenhuma das reencarnações da moça - a cada mais ou menos 200 ou 300 anos ela reencarna em Barovia para dar a Strahd uma falsa esperança de que "dessa vez é diferente") 

- ou então o Domínio reflete um desejo do dark lord: dá a ele algo que ele desejava profundamente antes de ser transportado para Ravenloft - mas de uma maneira distorcida, no estilo "cuidado com o que deseja" (é o caso de Falkovnia, o Domínio de Vlad Drakov, que sempre desejou ser um rei, dono de um reino poderoso, e acabou recebendo um domínio relativamente pequeno, de pouca importância, e localizado próximo aos domínios de seres muito mais poderosos, que o tratam não com desprezo, mas com total indiferença. Azalin, o lich que governa o Domínio de Darkon, que faz fronteira com Falkovnia, nem o considera um adversário digno de atenção, ainda que Vlad Drakov já tenha invadido a terra de Darkon com seu exército pelo menos quatro vezes).

- O domínio precisa ter um "tema", uma "cultura" dominante, que influencia as vidas de seus habitantes (monstros típicos,  histórias antigas, lendas, superstições, famílias dominantes com intrigas com famílias rivais, disputas de poder, etc.), e de alguma forma as brumas e sua (quase) onipresença sempre farão parte dessa "cultura". Outro elemento comum é o terror gótico (que Ravenloft nem sempre soube explorar muito bem, admito, pois nunca foi separado das raizes high fantasy de D&D): maldições de família, decadência moral, locais desolados,  castelos em ruínas, mansões abandonadas, segredos terríveis, e por aí vai.


Bem, aventureiros e mestres, as regras são estas. 

Ravenloft já foi escrito com muitos domínios prontos ,  e nuitos dark lords memoráveis (outros nem tanto assim), dando material suficiente para escrever centenas de aventuras ambientadas nos Domínios do Medo. Mas creio que praticamente todo Mestre de jogo gostaria de criar seu(s) próprio(s) dark lord(s), nem que seja só pelo gostinho de escrever um vilão com uma história trágica.


Alguém já criou seus próprios Domínios e Dark Lords? Compartilhe aí!


Forte abraço, caros aventureiros,  e que as brumas não nos alcancem!


9 comentários:

  1. Salve, Bardo!
    Como eu já disse, sou um grande fã de Ravenloft, e da mesma maneira sou apreciador de Innistrad, Castlevania, Bloodborne e outros tantos bons títulos de fantasia obscura e horror gótico. Já criei um cenário próprio de RPG bem trágico e assustador chamado Reinos Purpúreos, bastante inspirado no Semi plano do Pavor, onde cada um dos quatro Lordes Purpúreos tinha uma história de fundo intensa e habilidades diferentes.
    Sempre tive vontade e curiosidade em criar o meu próprio domínio do medo em Ravenloft, pode se dizer que esse cenário caseiro foi a minha experimentação inicial ainda que não tivesse nada a haver com Ravenloft em si. Contudo, eu tenho a convicção de ainda ter o meu próprio domínio inventado pra poder mestrar e sentir os mesmos arrepios proporcionados pela aventura original onde um grupo de aventureiros se dedica a livrar a bela e bucólica Baróvia do controle do rochedo, bonitão porém perigoso e maquiavélico Conde Strahd Von Zarovich. Gostei muito do conteúdo trazido pra cá e que venham muitos outros a me alegrar e me inspirar. Deus abençoe você sempre, querido Bardo.

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    1. Grato pela presença, nobre Yori.

      Os seus Reinos Purpúreos parecem ser bem interessantes, com esses 4 Lordes (seriam de certa forma os 4 Cavaleiros do Apocalipse?)... Depois, se puder, dê uma palhinha dessa história aqui nos comentários, falando sobre os 4 reinos, o que acontece neles, como vieram a ser, e por aí vai!

      Grato pelos elogios, amigo.

      Deus abençoe a todos nós!

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    2. Imaginei que ia notar Bardo! De certa forma os Lordes Purpúreos são indiretamente uma alusão aos quatro Cavaleiros do Apocalipse.

      Cada um dos Lordes Purpúreos governa um pedaço de terra que tem suas próprias características, relevo e criaturas. Grimsby é um lugar organizado em diferentes distritos controlados por um sindicato criminoso e por clãs de artesãos e onde grandes feiras são a norma. É governado por William, um fazedor de bonecos excêntrico obcecado em preservar a beleza das coisas. Ele tem o poder de congelar objetos e seres vivos no tempo de modo a preservar sua beleza. Knife's Edge é um domínio militarista cujos nativos muitas vezes fazem comércio na base do escambo, é dividido em setores com mercadorias e postos avançados de guarda. Seu governador é Finley, que usa sua habilidade militar com magia obscura. Dunwich (sim, referência a Lovecraft) é um domínio rico que sofre com a erosão costeira e é uma plutocracia cujo monarca representativo é Gaspard, herdeiro de uma rica família mercantil e amaldiçoado com imortalidade, parece uma benção mas é na verdade uma terrível doença. Whiteridge é território das artes, o domínio é repleto de antigas árvores e magníficas torres de magia, seu chefe é Kieran, um nobre narcisista e de língua afiada, ele é um ilusionista e obcecado por jantares luxuosos. Basicamente, William é a morte, Finley é a guerra, Gaspard é a praga e Kieran é a fome. Além disso, cada lorde purpúreo tem um lacaio, um Porta-Voz, alguém muito especial na vida deles que é também garoto de recados e guardião do reino. Este é o meu cenário caseiro resumido. Foi mal a demora pra responder, inclusive. Deus abençoe você.

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    3. Muito interessante o seu cenário caseiro, Yori.
      Deve ser bem legal jogar nesses reinos. Eles são separados, ou "coexistem"? Os 4 lordes estão em guerra uns com os outros ou um nem sabe da existência dos demais?
      Cada reino purpúreo tem monstros próprios?

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    4. Então, Bardo, os quatro lordes estão em guerra uns com os outros. Sem um inimigo em comum pra enfrentar, eles se dividem. Os reinos coexistem "pacificamente" e cada qual possui seus monstros próprios. Diga-se de passagem, são monstros típicos de Ravenloft mesmo.

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  2. Excelente pergaminho, nobre bardo. Mostra toda a complexidade e riqueza de Ravenloft. Uma pena que os bruxos da WotC não tenham lido isso antes de criar a atualização de Ravenloft para D&D 5e...

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    1. Muito obrigado, nobre Senhor dos Ventos!
      Suspeito que muitos dos "bruxos da costa" (e seus comparsas) sejam na verdade analfabetos funcionais, e que só consigam "pensar" reagindo a palavras-gatilho e slogans, sem terem realmente qualquer idéia própria. Uma verdadeira "mente coletiva", como uma colméia, ou um formigueiro, onde nenhum deles tem, de fato, individualidade... Alguns podem ser salvos, mas temo que a maioria não possa.

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  3. Gronark, o Senhor do Amor2 de outubro de 2023 às 13:13

    Essas dicas são inúteis, bardeco! Os mestres e jogadores não precisam mais criar absolutamente nada, já que os meus Bruxos da Costa já fizeram tudo que precisava ser feito! Tudo que os “narradores” precisam fazer é usar pagar uma taxa vitalícia no D&D Beyond e satisfazer todos os desejos dos jogadores em um ambiente completamente seguro! Esse é o poder do “amor” e da “modernidade”, onde nada é criado e tudo aquilo que existe serve para ser “atualizado” para os tempos “modernos”, HAHAHAHAHAHAHA

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    1. Os bruxos da costa não perdem por esperar, demoniozinho pueril! A maré está virando, sua hora vai chegar!

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