Mestre: "... e com um grito de dor, Tor-An-Zar, o necromante, se desfaz em cinzas. Sua tumba está finalmente vazia após tantos séculos de maldades.
Vocês olham ao redor e encontram um baú lindamente adornado com pedras preciosas encostado em uma das paredes. O baú é de madeira pintada de dourado, e é de um tamanho tal que dois halflings caberiam dentro dele. O que vocês fazem?
Bert, o Bardo (após Ingo, o ladrão, ter verificado se havia armadilhas): "eu abro o baú com cuidado, mantendo o rosto longe da tampa"
Mestre: "O baú é aberto sem dificuldades, e você vê diante dos seus olhos uma pequena fortuna em jóias e moedas de ouro. O tesouro resplandece diante de seus olhos. Você estima, só de olhar, que deve haver umas 1.000 moedas de ouro no baú, além de dezenas de broches e anéis de pedras preciosas. - o que vocês farão com o tesouro?"
Bert, o Bardo: "eu vou levar o tesouro, e depois dividimos"
(todos concordam)
Robert, o clérigo: "Eu estou olhando atentamente as paredes da tumba. Eu encontro algo de interessante?"
Mestre: "Você vê, penduradas na parede, duas lanças ornamentadas e dispostas em um "X". As pontas prateadas são esculpidas habilmente na forma de cabeças de dragões com as bocas abertas, de onde saem as lâminas."
(o clérigo lança uma magia "Detectar maldade" e faz um teste de percepção, para verificar se as lanças são amaldiçoadas. O mestre diz que ele não detectou nada)
Robert, o clérigo: "Eu vou levar as duas lanças comigo, não parece haver nenhuma maldição nelas."
(e antes desta cena, o grupo já havia encontrado duas espadas, 3 baús de tesouro, 4 barris de conhaque, 7 escudos, 9 conjuntos de armaduras e vários livros de magias no castelo do necromante)
É no mínimo estranho, na hora de coletar os tesouros, que a aventura siga normalmente independente do que os PJ estejam carregando. Não estou criticando, até porque é praticamente impossível pensar em todos os detalhes de todas as coisas numa aventura de RPG, mas acho estranho.
Ao mesmo tempo em que eu defendo que as regras de um RPG sejam enxutas, eu acho que há um núcleo de regras fundamentais que deve ser mantido e seguido.
Acho que uma regra para o quanto de materiais em geral os PJ podem carregar consigo é uma boa pedida, para tornar o jogo um pouco mais realista e também estimular o planejamento das aventuras por parte dos jogadores (e também para usar em jogos coisas que nunca vi sendo usadas nas mesas que joguei, como bases, seguidores, etc. que seriam realmente ferramentas úteis nestas horas, e serviriam como uma ponte entre um RPG e um wargame.... e acho que isto é um bom assunto para um futuro post!).
Por exemplo, na aventura A Tumba de Demara (a primeira daquele kit First Quest, do AD&D 2e), há uma sala da dungeon em que o tesouro encontrado são 2 barris de bebida, um de conhaque e outro de cerveja (eu acho). O livro nesta parte diz que os barris valem "X" peças de ouro (ou de prata, não lembro), dando a deixa para que os PJ os levassem consigo e os revendessem na cidade que serve de base (em nenhum momento é mencionada a possibilidade de que as bebidas sejam consumidas! Mas por outro lado, não seria bom para os heróis beberem dentro da dungeon, pois isto provavelmente afetaria seu desempenho nas batalhas!).
Desde a primeira vez que joguei esta aventura, eu fiquei meio cismado com esta parte, imaginando o grupo rolando dois barris de bebida pelo castelo do rei Demara enquanto enfrentava orcs e gnolls... Ou então carregando no colo dois barris pequenos (se for o caso). De qualquer maneira, isto era meio estranho. O ideal seria que eles deixassem os barris em algum esconderijo improvisado no próprio castelo (e torcer para que não fossem esquecidos ou roubados por um orc) ou então fizessem uma pausa para levar o loot para a cidade-base e revender (e poderiam aproveitar para usar o dinheiro da venda para se reabastecer).
E se o jogo ou a aventura em questão pesa a mão na quantidade de tesouros que são encontrados ao longo do caminho, os PJ podem acabar carregando quilos e quilos de moedas, armas, livros, etc., como se os heróis tivessem uma espécie de "inventário infinito" ou um "saco sem fundo" onde conseguem guardar absolutamente todos os tesouros, armas e itens mágicos que encontram ao longo da aventura.
A maioria dos mestres que já vi jogando me parece que não liga para esse "inventário infinito", mas isto é algo que volta e meia me chama a atenção e quando eu mestro um jogo eu procuro colocar um limite na quantidade de coisas que os jogadores podem carregar.
Óbvio que seria muito chato para qualquer um se ater a detalhes como o peso dos objetos carregados (a não ser que tal informação esteja de muito fácil acesso) ou o tamanho de tais objetos (a não ser, é claro, que eles sejam realmente grandes, como os barris de bebidas mencionados), mas eu enxergo duas soluções bem práticas para isso:
1) Estabelecer um limite de peso que cada jogador consegue carregar (com base no valor de FOR) e definir um peso para cada item (de forma genérica, claro, senão fica detalhado demais)
ou
2) Entregar para cada jogador uma "tripinha" (uma tabela de uma coluna só e algo entre 10 e 15 linhas, feita no excel ou em programa semelhante), com determinado número de casas, para servir de inventário para os PJ. Eles iriam anotando nesta tripinha, em cada célula, os tesouros e itens que fossem coletando ao longo da aventura, e quando todos os espaços estivessem cheios significaria que o inventário estava cheio, e teriam que largar alguma coisa para poder pegar um item novo (e por isso a tripinha deveria ser preenchida a lápis), ou então se abster de pegar coisas novas e esvaziar o inventário na cidade (seja vendendo numa loja ou deixando em alguma "base" pertencente aos personagens - mais uma maneira de incorporar esse conceito que vi sendo tão poucas vezes usado por aqui, no nosso Brasil)
Eu sinceramente prefiro a segunda opção, aventureiros.
E vocês? Como lidam com este detalhe das aventuras? Os personagens dos seus jogadores podem carregar tudo o que encontram na dungeon?