quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Armas medievais - Bestas, Balestras, etc.

 Saudações, Mestres e Aventureiros!


Cheguem mais perto da fogueira. O Bardo vem lhes trazer mais um post sobre armas. 

Desta vez falarei sobre as engenhosas Bestas, armas incrivelmente mortíferas e avançadas de nossos antepassados. 

Alguns caçadores ainda as usam hoje em dia. 

Hobistas e entusiastas da arquearia ainda as fabricam artesanalmente em suas pequenas oficinas mundo afora.




Basicamente, as bestas eram armas que combinavam um arco (de madeira, chifre ou até mesmo metal) com uma haste (geralmente de madeira), sendo que geralmente havia um sistema de roldanas e manivelas ou de manivela e cremalheira para puxar a corda (a puxada geralmente era mais pesada que a de um arco comum, sendo praticamente impossível, em alguns modelos de besta, a um homem puxar a corda sem este mecanismo) e também com um sistema  de gatilho para disparar o arco. 

Na extremidade frontal havia uma argola de metal (uma espécie de estribo) onde o besteiro enfiaria o pé quando apoiasse a besta no chão, possibilitando-lhe ficar com as duas mãos livres - necessário para girar as manivelas do mecanismo para armar a besta.


A munição usada nas bestas era bastante variada, podendo ser flechas, virotes (dardos), esferas metálicas, esferas de barro, pedras, etc.

As bestas eram capazes de disparar flechas com mais força e precisão do que arcos, mas sacrificando a cadência de tiro (enquanto um arqueiro experiente conseguiria disparar algo em torno de 10 a 15 flechas por minuto, um besteiro treinado só conseguiria disparar por volta 6 dardos e, no caso das bestas mais pesadas, somente um ou dois disparos por minuto. Com isso, a não ser que houvesse alguma proteção, os besteiros não eram tão eficientes em batalhas em campo aberto, pois demoravam para carregar e disparar suas armas. Por este motivo, era comum nos exércitos da época a presença de paveses, grandes escudos de madeira que eram postos à frente dos besteiros no campo de batalha, para que os mesmos fossem abrigados contra o fogo inimigo enquanto recarregavam suas armas. Assim, os besteiros eram mais adequados para a defesa de fortalezas e castelos durante cercos, pois em posições defensivas de torres e muralhas poderiam ser protegidos por ameias ou outras estruturas semelhantes enquanto recarregavam suas armas.


Outra vantagem da besta em relação ao arco é o tempo necessário de treinamento. Conforme já escrevi neste humilde blog, um arqueiro inglês treinava desde os 7 anos de idade para conseguir manejar um arco longo de guerra por volta dos 17 anos, tendo em vista a extrema força necessária para retesar a corda de um arco de guerra. Sendo assim, poderia demorar 10 anos para se ter um arqueiro preparado para a guerra. Um besteiro, por outro lado, poderia ser treinado em algumas semanas.

A comparação acima pode soar exagerada, pois falei dos arqueiros ingleses: outros tipos de arco poderiam exigir tempos mais enxutos de treinamento, mas ainda assim seria necessário o desenvolvimento da musculatura do arqueiro, numa proporção maior que o que seria necessário para um besteiro. Além disso, puxar a corda de um arco não é só questão de força bruta - há um "jeito certo", há toda uma coordenação de vários músculos do corpo para isso acontecer de forma eficiente (se você tiver acesso a um arco, mesmo um desses esportivos de hoje em dia, tente puxar a corda até atrás da orelha, que nem os ingleses faziam, e saberá do que estou falando)

Mais uma vantagem: enquanto que um arqueiro precisava manter a corda retesada com a força do próprio corpo enquanto mirava antes de disparar, o besteiro consegue deixar a besta com o dardo travado, "engatilhado", enquanto mira, o que poupa bastante esforço. Isto certamente contribui para a precisão destas armas.

Por outro lado, as bestas eram de fabricação mais difícil e, portanto, mais caras e relativamente mais raras do que os arcos. Para fabricar uma besta eram necessários conhecimentos e técnicas mais especializados, pois tratava-se de uma arma mais complexa e que provavelmente exigia a mão de obra de mais de um tipo de profissional. Os arcos eram de fabricação mais simples, e um artesão experiente conseguiria fabricar um arco longo em cerca de  cinco a sete horas de trabalho.

As bestas foram usadas amplamente na Europa medieval, pelo menos desde os anos 1.000 D.C, principalmente na Europa Central e Europa Meridional. 

Na China há exemplares mais antigos ainda deste tipo de arma, além do incrível Chu-ko-nu, uma espécie de besta de repetição, capaz de fazer incríveis 15 disparos por minuto (às custas do alcance e do poder de penetração, porém).

Para finalizar, deixo esta citação, retirada do excelente blog  Anno 1471, dedicado a história medieval portuguesa, acerca do uso desta arma pelos exércitos de Portugal:

"Das vilas e cidades do país vinham também os Besteiros do Conto – um número fixo de besteiros, treinados e bem equipados, que cada concelho devia fornecer para serviço militar em tempo de guerra. Ao serviço como Besteiro do Conto estava associada uma série de deveres, é certo, mas também um grande conjunto de privilégio. Neste nosso período, os Besteiros do Conto enquanto corpo de renome no seio da hoste portuguesa estavam já em plena decadência (acabariam por ser dissolvidos em 1498). Ainda assim, como um dos primeiros corpos proto-permanentes no país, participaram em todas as campanhas militares portuguesas do século XV, grandes ou pequenas. 

Um homem recrutado como besteiro estava, por lei, obrigado a ter uma besta (de garrucha – um gancho para puxar a corda até ao engate; ou de polé – um sistema de roldanas para armar a besta) e um cento de virotões. O equipamento defensivo não deveria ser muito: gibanetes, sem dúvida, protecções de cabeça (barretas, celadas com ou sem viseira); alguma malha, o ocasional arnês de braços, e pouco mais. Em Portugal, ao contrário de outras paragens, os besteiros parecem não ter trazido consigo paveses."

7 comentários:

  1. Excelente post, nobre bardo. Gosto muito desses estudos e análises comparativas com armas medievais. A velha disputa do Arco vs Besta é uma discussão antiga, e bastante interessante. Você cobriu muito bem o tema; arcos requerem uma força e treinamento bastante elevados (acho até engraçado quando vejo um personagem de RPG fisicamente fraco mas que é um "mestre arqueiro"). As bestas, apesar de mais caras de se fabricar e obter, podem ser usadas relativamente bem em menos de um mês. Você colocou bem aqui que os usos do arco e besta ocorriam idealmente em situações diferentes; arcos eram mais indicados para batalhas de campo aberto, enquanto as bestas para situações de defesa em cercos.

    Gostei bastante da citação também,e agradeço por ter compartilhado esse blog sobre história medieval portuguesa. Eu não o conhecia.

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  2. Aproveitando, comecei a ler (não consegui terminar ainda por conta do trabalho) o outro post que escreveu sobre as sagas nórdicas em https://bardodanevoa.blogspot.com/2021/10/literatura-medieval-as-sagas-nordicas.html. Muito, muito interessante mesmo, e agradeço pela indicação.

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    1. Valeu pelos comentários e pelos elogios, Odin!
      Realmente, o "arqueiro franzino" é um estereótipo estranho dos mundos de fantasia de RPG. O pessoal parece que pensa assim: "ih, o cara é franzino, então não se garante na porrada, então por isso ele prefere usar um arco, porque ataca de longe". Imagino que nos primórdios dos livros de fantasia algum ilustrador tenha desenhado um personagem arqueiro deste jeito, e aí essa imagem ficou, se transformando numa espécie de "arquétipo". Historicamente, isto está distante da realidade, como você escreveu aqui e eu escrevi em outros posts. Era necessário ser MUITO forte para conseguir usar um arco numa batalha. Há relatos de arqueólogos que estudam os campos de batalha ingleses que os arqueiros daquele país tinham os ossos das costas e dos ombros deformados de tão fortes que eram, por causa da força necessária para puxar a corda de um long bow de guerra. Então um personagem mais realista deveria ter um score mínimo de força para usar um arco desse tipo, e certamente nenhum arqueiro deveria ser franzino.

      O blog Anno 1471 é muito interessante. Descobri por acaso em minhas pesquisas sobre armas históricas e história militar. Ainda não terminei de ler os posts, mas é bem bom, vale dar uma olhada, ainda mais porque esses detalhes da história portuguesa não são muito divulgados (a "história militar medieval mainstream" foca muito mais na Europa Central e Grã-Bretanha, deixando o sul da Europa de fora...)

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    2. Sim, a questão do arqueiro franzino sempre me fez rir, e eu realmente acredito que os músculos das costas e a própria estrutura óssea desses arqueiros ingleses (que treinavam desde a infância) eram muito mais densos do que o de pessoas e mesmo soldados comuns.

      Sobre Anno 1471, foi mesmo um achado. Há muito pouco sobre a história militar de Portugal, e é interessante saber mais

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  3. Gronark, O Senhor do Sofrimento25 de agosto de 2022 às 10:24

    Não perca tempo contando as histórias sobre as guerras e as armas de antigamente, bardeco! Meus cultistas historiadores já estão "corrigindo" a própria história! Pode-se ver que agora se predomina ilustrações e narrativas de arqueiros franzinos, pois seria preconceituoso com aqueles que não possuem força física! Hoje todos podem ser aquilo que quiserem sem trabalharem para tal, e aqueles que discordarem são ostracizados! Uma verdadeira maravilha da modernidade! HAHAHAHAHAHAHAHAHA

    A história, o imaginário e até mesmo a realidade estão sendo reescrito para se adequar as sensibilidades modernas! Não viu como vem surgindo do nada "estudos em grandes universidades" de como eram apenas as mulheres que caçavam, plantavam, faziam artesanato/ferramentas e que comandavam as tribos. Sendo que os homens eram meramente parasitas opressores que modificaram a história em nome de criar o patriarcado eterno! Não irá demorar para que haja um estudo em uma grande universidade relatando que foram os poderosos astecas que destruíram Roma! HAHAHAHAHAHAHAHA

    Saiba que meus números aumentam e não irá demorar para que Lreuckröhr venha corrigi-lo! Com ele aqui e Denilson no Valhalla, eu poderei ficar mais relaxado, mas não se engane, mais pessoas surgirão para combater nessa guerra pelo imaginário enquanto você, Odin e o Sonhonauta veem seus aliados diminuir! HAHAHAHAHAHAHA

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    1. Maldito seja, Gronark! Tanto pelas mentiras disfarçadas de justiça social que você e sua corja de cultistas alienados espalha quanto pela corrupção de nossos aliados. Você pagará por isso!

      Esse seu ardil de "reescrever e corrigir" a história já foi descoberto, e não há de ir muito longe agora que sua máscara caiu. E engana-se se pensa que você é o único que está reunindo aliados. Em breve, revelarei um grupo de pessoas que, mesmo não o conhecendo pessoalmente, se opõe ferozmente ao seu legado decadente!

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    2. Maldito seja, Gronark! É como Odin escreveu... o seu ardil de reescrever e corrigir a história já foi descoberto! Em seu desespero para acelerar seu plano de corromper a humanidade, você e os outros demônios foram forçados a se mostrarem, e com isso sua máscara caiu e não conseguirão mais enganar as pessoas tão facilmente! A resistência contra os servos do anticristo só irá aumentar, dia após dia! Há milhares de outros como eu, empenhados em preservar a verdadeira história, para que as gerações futuras não sejam enganadas pelas forças das trevas!
      Arrependa-se enquanto é tempo, Gronark! Nenhum mal é eterno! Só o Criador é eterno! Venha para a luz!

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