Saudações, aventureiros, taverneiros e mestres de guildas!
Compus este pequeno texto para contar-lhes um pouco acerca de um gênero literário medieval que muito influenciou e até hoje influencia a literatura ocidental.
Refiro-me, naturalmente, às Sagas Nórdicas.
Este post de meu humilde blog não pretende esgotar o assunto (se é que isso é possível). O que escreverei é, digamos, um resumo geral do que li a respeito deste belo gênero literário. Pode ser que, conforme os anos passem e eu venha a aprender mais a respeito das sagas, eu atualize este post ou escreva outros, mais profundos.
(acho que uma vida não é tempo suficiente para que eu consiga ler tudo o que gostaria de ler...o tempo dirá se conseguirei me aprofundar um pouco mais neste e em outros assuntos literários)
Dito isto, vamos ao texto:
Este tipo de texto é bastante "direto ao ponto", sem muitas descrições dos lugares e das pessoas envolvidas, criando uma leitura um tanto "dura" e "rude" em diversos pontos - como se os autores das sagas dissessem que "as coisas são o que são, não há uma explicação para tudo", e "isso aconteceu porque sim, porque é assim que as coisas são".
Das sagas que eu li até hoje (A Saga dos Volsungos e algumas contidas nas coletâneas Comic Sagas and Tales from Iceland, da editora Penguin, e algumas contidas em Eirik the Red and other Icelandic Sagas, da editora Oxford), percebi que uma característica comum é a história começar antes do nascimento do protagonista (ou então dar uma breve introdução falando sobre sua vida pregressa, para delinear que tipo de pessoa o protagonista era) e terminar um pouco depois de sua morte (se for o caso), com as ações de seus descendentes que ocorreram em consequência aos eventos descritos na história.
As Sagas lendárias (fornaldarsögur) ou "sagas dos tempos antigos" aludiam a grandes feitos e heróis de um passado remoto (dos tempos "míticos" passados na Europa continental, geralmente na Alemanha ou na Escandinávia) ou de um passado não tão distante mas que teve muita influência na história e na própria psiquê do povo nórdico (por exemplo, há personagens que representam grandes homens e reis que realmente existiram, como Átila, o huno, que é representado pelo Rei Atli na Saga dos Volsungos).
Em breve publicarei uma resenha da Saga dos Volsungos |
Este tipo de sagas são repletos de figuras de linguagem ("kennings" - metáforas estilísticas, associações de imagens) de forma que não podemos levar tudo o que foi escrito ao pé da letra (e na opinião deste humilde Bardo que vos escreve, nem todos os kennings foram identificados e há outras figuras de linguagem que até hoje passam despercebidas). Os kennings enriquecem e embelezam bastante o texto, dando um caráter ainda mais fantástico à leitura, sendo uma linguagem poética por excelência.
**Pretendo futuramente escrever um post só sobre kennings, porque é um assunto deveras interessante.
As Sagas Cavalheirescas (riddarasögur) também chamadas Sagas Românticas, são inspiradas nas Chansons de Geste, que eram poemas heróicos que retratavam os feitos de cavaleiros franceses, além de outros romances de cavalaria da época (por exemplo, as Lendas Arturianas). Um exemplo notável de Saga Cavalheiresca é Tristrams saga ok Ísöndar, a versão escandinava da famosa história de "Tristão e Isolda", de cuja versão original em francês só sobreviveram fragmentos. Tais sagas começaram com mais força na Noruega (numa tentativa de integrar a Noruega com a cultura Européia) e posteriormente começaram a ser produzidas também na Islândia. Outro exemplo notável deste gênero é Trójumanna saga, a versão nórdica da história da mítica Guerra de Tróia.
As Sagas de Islandeses (Íslendingasögur) são, na opinião deste Bardo que vos escreve, as mais interessantes, pois retratavam a vida das pessoas comuns e graças a elas podemos ter uma noção de como era viver na Islândia medieval. O foco deste tipo de saga são as famílias islandesas, principalmente durante o início da colonização: temas comuns são disputas territoriais entre as famílias, rivalidades entre chefes de clãs, vinganças por conta de ofensas (feitas ou presumidas), disputas entre irmãos por heranças, e por aí vai. Estas sagas nos dão relatos de como as coisas funcionavam naquela época, como eram as leis, como as pessoas se comportavam, quais eram seus valores, o que comiam, o que bebiam, como faziam comércio, que moedas usavam, com o que trabalhavam, dentre muitas outras coisas.
É sempre gratificante saber como as coisas eram feitas em outros tempos, porque ajuda a colocar em perspectiva as coisas de agora.
Leitura recomendada pelo Bardo da Névoa |
Enfim, as sagas são mais um exemplo de leitura enriquecedora. Concito a meus leitores que parem de ler bobagens e procurem boa literatura, para exercitarem seus cérebros e desenvolverem sua inteligência, como recomendava o saudoso Professor Pier Luigi...