quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Os Testes de Poder em Ravenloft

"...e então o último goblin que sobreviveu à batalha estava pendurado pelo tornozelo, vítima de uma das armadilhas habilidosamente implantadas por Tanya no terreno, antes da luta começar. Alberich, o bruxo, usando seus poderes mentais, interroga o goblin, à procura de informações. A criatura covarde tem medo das consequências de trair seus mestres, mas ao mesmo tempo tem mais medo da dor e da morte. Alberich capta este medo, e ardilosamente promete ao goblin que ele será poupado, caso diga o que eles querem saber. O goblin, um tanto aliviado, fala tudo o que sabe a respeito de seus irmãos de armas, e sobre a misteriosa "senhora da floresta", a quem seu mestre servia, mas não sabia dizer muito mais do que isso. Alberich, satisfeito, dá as ordens para Eberk, seu guarda-costas - "Mate-o", ao que o guerreiro obedece, cortando a cabeça da vil criatura. Um calafrio percorreu a espinha de Alberich tão logo a sentença saiu de sua boca. No fundo, ele sabe que o que fez foi errado. Ao tentar falar novamente, ele percebe que sua voz mudou: ele agora só consegue falar através de um sussurro áspero, como se sua voz saísse das profundezas de um túmulo. Seus companheiros o olham, amedrontados. Será que ainda confiam nele?"

Na minha opinião, a coisa mais interessante e distinta de Ravenloft são os Testes de Poder, porque se bem usados, podem criar efeitos bastante interessantes em uma campanha.

Basicamente funciona assim: em Ravenloft, se um personagem de jogador cometer um ato considerado cruel, vil, maligno, indigno de um herói, ele atrairá a atenção dos Poderes Sombrios, e deverá ser submetido a um "Teste de Poder", que lhe dará a chance de resistir ao toque das trevas. Se falhar, os Poderes Sombrios lhe darão um "presente" que ao mesmo tempo dá uma vantagem e uma desvantagem ao personagem. Este "presente" das trevas é uma forma de corrupção, um efeito dos Poderes Sombrios no corpo e na mente do personagem. Conforme ele vai cometendo atos deste tipo, a corrupção vai se tornando pior, e suas consequências mais trágicas - o personagem vai se tornando cada vez menos gente e se transformando cada vez mais em um monstro. A corrupção começa com efeitos "leves", como os olhos do personagem se tornarem vermelhos, ou o cabelo ficar totalmente branco (efeitos que não dão penalidades ou penalidades leves) e vão até deformações pesadas, como os pés se tornarem cascos, crescer um rabo de escorpião, a pele se tornar nojenta e sebosa, o personagem emitir permanentemente um aroma de carne podre, etc. (transformações que diminuem permanentemente atributos do personagem, como Carisma e Constituição, ou que lhe dêem penalidades severas em jogadas e testes).



O livro Domínios do Medo traz uma tabela com sugestões de corrupções que os personagens podem sofrer, e seus efeitos. Obviamente, o mestre pode inventar sua própria tabela, devendo apena obedecer a lógica de que quanto pior o ato do personagem, pior será a consequência. Essa mecânica dá muita margem para roleplay, e acho que, sempre que possível, o mestre deve inventar uma penalidade que tenha algo a ver com o delito do personagem, que reflita a maldade cometida por ele, ou que afete a habilidade ou parte do corpo usada para cometer o delito. Por exemplo, se ele roubou um objeto de uma pessoa inocente, os Poderes Sombrios podem "presenteá-lo" com mãos mais ágeis, que lhe permitam roubar melhor, mas que em compensação não sejam muito firmes para segurar uma arma, de modo que ele sofra penalidades nas jogadas de ataque. Se ele caluniou alguém, ele pode ganhar de presente uma língua bifurcada, que reduza seu Carisma em 1 ponto, mas lhe dê o poder de se comunicar com as cobras. Agora um exemplo de uma corrupção mais pesada: o personagem matou uma pessoa inocente por um motivo egoísta ou injusto, e então é transformado pelos Poderes em um ser deformado, horroroso, perdendo no ato 6 pontos de carisma,  mas em compensação ganhando 2 pontos de força, devido à massa muscular ganha... Estes são apenas alguns exemplos, o mestre é, como sempre, livre para inventar quaisquer efeitos indesejáveis para os personagens que saírem da linha em suas aventuras!

Perda dos lábios e do cabelo, apodrecimento dos dentes: Carisma: -5, provavelmente virou personagem do mestre

Transformação em "meio-licantropo" - Carisma: -2; Força: +2, virou personagem do mestre


A corrupção de um personagem tocado pelos Poderes Sombrios é cumulativa e progressiva: a cada ato de maldade cometido, a chance de falhar no teste de poder se torna maior, e a situação do personagem irá piorando. No estágio final, quando ele se torna mais monstro do que pessoa, ele se transforma num personagem do mestre, sem chance de redenção. Se seus pecados forem muito graves, os Poderes Sombrios podem lhe conceder uma cela no inferno: ele se torna o Darklord de seu próprio domínio em Ravenloft.

Conforme as regras, é possível ao personagem reverter suas transformações e a corrupção gerada pelos Poderes Sombrios, mas para isso ele deverá realizar boas ações que mais que compensem seus atos malignos. Como sempre, acho que pode ficar a critério do mestre quando algum ato de heroísmo ou bondade de um personagem é digno de reverter alguma maldição destas.

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