terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Reinos Esquecidos - Frísia

 Saudações, aventureiros!


Vamos ao primeiro post de 2022! 

Espero que todos tenham tido uma excelente virada de ano e um excelente mês de janeiro! Quando paramos para pensar, 1 doze avos do ano já passou! E fevereiro já passou da metade!

Andei afastado do blog por motivos de trabalho (sim, tocar em tavernas e em praças já não dá mais tanto dinheiro quanto nos bons e velhos tempos, então mesmo um Bardo precisa ter um emprego "normal" hoje em dia...). 

Quem sabe com a venda de meus livros eu não consiga viver exclusivamente de RPG e consiga sair do  8h-18h?? 

Visitem minhas lojas no DriveThruRPG e no Dungeonist e ajudem este jovem autor a ganhar uma renda extra e continuar produzindo conteúdo para vocês, nobres leitores e seguidores do blog!


Bem, feita minha humilde propaganda, vamos ao post de hoje!


Vou começar esta série de posts sobre o que eu chamo de "Reinos Esquecidos", que são antigas nações européias que se dissolveram antes da grande consolidação dos Estados Nacionais ocorrida nos séculos XVII-XIX e que, portanto, não se tornaram países da forma como entendemos hoje em dia.

O primeiro "Reino Esquecido", que estreará a série, é a Frísia, lar do lendário guerreiro gigante Grutte Pier, o mestre da espada Zweihander!

Agora, sem mais delongas, aconcheguem-se perto da fogueira, pois o Bardo da Névoa lhes contará um pouco da história deste Reino Esquecido...

Bûter, brea, en griene tsiis; wa't dat net sizze kin, is gjin oprjochte Fries

"Manteiga, pão e queijo verde; se você não consegue dizer isso, você não é um verdadeiro Frísio"

A Frísia é uma região banhada pelo Mar do Norte, e geograficamente se localizava em territórios que hoje pertencem  à Alemanha, Holanda e Bélgica. Atualmente é considerada uma província holandesa.

Mapa da região Frísia, como era durante o reinado (ou ducado) de Redbad

De origem incerta, especula-se que os frísios vieram originalmente da Escandinávia e se estabeleceram na região que veio a ser conhecida como Frísia não muito tempo após a queda do Império Romano Ocidental - porém há relatos escritos por  romanos sobre os Frísios, principalmente os escritos por Plínio, o Velho, que dizem que aquele era um povo que vivia da agricultura e da pecuária. Provavelmente os historiadores romanos os consideravam só mais um dos povos da Germania. 

Esses "frísios originais" eventualmente desapareceram. 

Mais tarde, na Idade Média, a região da frísia foi novamente colonizada, e em sua história passou por muitos atritos com os Francos e Holandeses (por terra) e com os vikings (pelo mar e no litoral - os frísios também eram um povo marítimo, e eventualmente também se tornaram saqueadores, copiando as táticas vikings).

Não havia uma autoridade central - a Frísia era na verdade o conjunto de vários pequenos comunidades independentes, que se uniam militarmente em caso de necessidade. Não é muito claro se havia de fato uma liderança permanente naquele povo. Acredita-se que era uma nação composta por homens livres, e a pequena elite não dispunha de grande poder político. Todos os homens empunhavam armas, e esperava-se que cada um defendesse suas terras em caso de invasões. 

Entretanto, em grandes invasões ou guerras, um exército unificado seria formado, e um dos nobres seria eleito general (com mandato de apenas 1 ano).

O primeiro "rei" (ou duque, dependendo do historiador) dos frísios a respeito do qual existem registros históricos foi Aldgisl (ou Aldegisel ou, aportuguesando, Aldegiso), a respeito do qual sabe-se muito pouco, somente que ele liderou os frísios em guerras contra os francos pela posse de antigas fortificações romanas na região. Além disso, Aldegiso abrigou em suas terras o bispo saxão Wilfrid (o qual mais tarde seria canonizado santo). Wilfrid foi encorajado e apoiado por Aldegiso a batizar e evangelizar o povo Frísio.

Rei Aldegiso

Outro rei importante foi Redbad (ou Radbod, ou aportuguesando, Redebaldo), possível sucessor de Aldegiso (talvez tenha sido seu filho) o qual resolveu infelizmente regredir aos costumes pagãos na Frísia, expulsando padres e bispos que haviam se instalado na região (entre eles, São Wilibrord, missionário e bispo anglo-saxão). 

Há uma lenda de que Redbad quase se converteu, e mudou de ideia no último momento, a apenas instantes de ser batizado, quando foi-lhe dito que ele não encontraria seus ancestrais no Paraíso (uma vez que eles haviam morrido pagãos). Conta-se que Redbad teria dito que preferia se reunir com seus ancestrais pagãos no inferno do que se juntar a "mendigos" no Paraíso. (Na opinião deste humilde Bardo, esta lenda parece contradizer o relato de que Redbad seria o filho de Aldegiso, pois este provavelmente havia se convertido e portanto poderia ser encontrado no Paraíso... a não ser que Aldegiso não houvesse sido convertido em sua época, muito embora tenha apoiado a evangelização feita por São Wilfrid)

Redbad lutou sucessivamente contra os Francos, obtendo algumas vitórias, mas eventualmente foi derrotado (por ninguém menos que Carlos Martelo, um dos grandes campeões da Cristandade).

Rei Redbad

Os Burgúndios também tentaram conquistar a Frísia, mas nunca conseguiram (ou nunca dispuseram de homens suficientes) para propriamente ocupá-la, de forma que a Frísia permaneceu por muito tempo relativamente livre, com seu sistema social de homens livres e comunidades autônomas funcionando de maneira normal.

Foi por volta de 1500, com uma invasão alemã (mercenários atuando sob a alcunha de "A Companhia Negra") financiada pelos burgúndios, que Grutte Pier iniciou uma revolta camponesa, apoiado pelo Duque de Guelders. A revolta de Grutte Pier se estendeu até mesmo por território holandês, e algumas cidades e fortalezas litorâneas foram pilhadas e conquistadas. Entretanto, tal esforço não conseguiu ser sustentado por muito tempo, e eventualmente a Frísia foi conquistada pelos Habsburgos (por volta de 1524).

Grutte Pier, conforme já escrevi neste blog, não morreu em batalha: retirou-se, frustrado, da guerra, e morreu de causas naturais em sua própria casa, aos 40 anos de idade.

Até hoje o dialeto frísio é falado na região, e seus habitantes possuem bastante orgulho de suas origens e de sua história.


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Em um jogo de RPG:

- Obviamente a Frísia (assim como qualquer país, nação, etc.) pode ser usada como pano de fundo para um jogo com uma pegada mais histórica e realista - e a aventura poderia ser centrada em alguma invasão dos Burgúndios à Frísia, ou em alguma expedição de Grutte Pier.

- Em um jogo de Cthulhu Dark Ages, creio que as profissões mais plausíveis para PJs frísios seriam as seguintes: marinheiro, mercenário, mercador e fazendeiro;

- Em um jogo estilo AD&D, creio que PJ frísios combinem mais com as classes guerreiras (Guerreiro, Paladino, Vingador, Bárbaro, etc.)

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