Saudações, aventureiros!
Vamos ao primeiro post de 2022!
Espero que todos tenham tido uma excelente virada de ano e um excelente mês de janeiro! Quando paramos para pensar, 1 doze avos do ano já passou! E fevereiro já passou da metade!
Andei afastado do blog por motivos de trabalho (sim, tocar em tavernas e em praças já não dá mais tanto dinheiro quanto nos bons e velhos tempos, então mesmo um Bardo precisa ter um emprego "normal" hoje em dia...).
Quem sabe com a venda de meus livros eu não consiga viver exclusivamente de RPG e consiga sair do 8h-18h??
Visitem minhas lojas no DriveThruRPG e no Dungeonist e ajudem este jovem autor a ganhar uma renda extra e continuar produzindo conteúdo para vocês, nobres leitores e seguidores do blog!
Bem, feita minha humilde propaganda, vamos ao post de hoje!
Vou começar esta série de posts sobre o que eu chamo de "Reinos Esquecidos", que são antigas nações européias que se dissolveram antes da grande consolidação dos Estados Nacionais ocorrida nos séculos XVII-XIX e que, portanto, não se tornaram países da forma como entendemos hoje em dia.
O primeiro "Reino Esquecido", que estreará a série, é a Frísia, lar do lendário guerreiro gigante Grutte Pier, o mestre da espada Zweihander!
Agora, sem mais delongas, aconcheguem-se perto da fogueira, pois o Bardo da Névoa lhes contará um pouco da história deste Reino Esquecido...
Bûter, brea, en griene tsiis; wa't dat net sizze kin, is gjin oprjochte Fries
"Manteiga, pão e queijo verde; se você não consegue dizer isso, você não é um verdadeiro Frísio"
A Frísia é uma região banhada pelo Mar do Norte, e geograficamente se localizava em territórios que hoje pertencem à Alemanha, Holanda e Bélgica. Atualmente é considerada uma província holandesa.
| Mapa da região Frísia, como era durante o reinado (ou ducado) de Redbad | 
De origem incerta, especula-se que os frísios vieram originalmente da Escandinávia e se estabeleceram na região que veio a ser conhecida como Frísia não muito tempo após a queda do Império Romano Ocidental - porém há relatos escritos por romanos sobre os Frísios, principalmente os escritos por Plínio, o Velho, que dizem que aquele era um povo que vivia da agricultura e da pecuária. Provavelmente os historiadores romanos os consideravam só mais um dos povos da Germania.
Esses "frísios originais" eventualmente desapareceram.
Mais tarde, na Idade Média, a região da frísia foi novamente colonizada, e em sua história passou por muitos atritos com os Francos e Holandeses (por terra) e com os vikings (pelo mar e no litoral - os frísios também eram um povo marítimo, e eventualmente também se tornaram saqueadores, copiando as táticas vikings).
Não havia uma autoridade central - a Frísia era na verdade o conjunto de vários pequenos comunidades independentes, que se uniam militarmente em caso de necessidade. Não é muito claro se havia de fato uma liderança permanente naquele povo. Acredita-se que era uma nação composta por homens livres, e a pequena elite não dispunha de grande poder político. Todos os homens empunhavam armas, e esperava-se que cada um defendesse suas terras em caso de invasões.
Entretanto, em grandes invasões ou guerras, um exército unificado seria formado, e um dos nobres seria eleito general (com mandato de apenas 1 ano).
O primeiro "rei" (ou duque, dependendo do historiador) dos frísios a respeito do qual existem registros históricos foi Aldgisl (ou Aldegisel ou, aportuguesando, Aldegiso), a respeito do qual sabe-se muito pouco, somente que ele liderou os frísios em guerras contra os francos pela posse de antigas fortificações romanas na região. Além disso, Aldegiso abrigou em suas terras o bispo saxão Wilfrid (o qual mais tarde seria canonizado santo). Wilfrid foi encorajado e apoiado por Aldegiso a batizar e evangelizar o povo Frísio.
| Rei Aldegiso | 
Outro rei importante foi Redbad (ou Radbod, ou aportuguesando, Redebaldo), possível sucessor de Aldegiso (talvez tenha sido seu filho) o qual resolveu infelizmente regredir aos costumes pagãos na Frísia, expulsando padres e bispos que haviam se instalado na região (entre eles, São Wilibrord, missionário e bispo anglo-saxão).
Há uma lenda de que Redbad quase se converteu, e mudou de ideia no último momento, a apenas instantes de ser batizado, quando foi-lhe dito que ele não encontraria seus ancestrais no Paraíso (uma vez que eles haviam morrido pagãos). Conta-se que Redbad teria dito que preferia se reunir com seus ancestrais pagãos no inferno do que se juntar a "mendigos" no Paraíso. (Na opinião deste humilde Bardo, esta lenda parece contradizer o relato de que Redbad seria o filho de Aldegiso, pois este provavelmente havia se convertido e portanto poderia ser encontrado no Paraíso... a não ser que Aldegiso não houvesse sido convertido em sua época, muito embora tenha apoiado a evangelização feita por São Wilfrid)
Redbad lutou sucessivamente contra os Francos, obtendo algumas vitórias, mas eventualmente foi derrotado (por ninguém menos que Carlos Martelo, um dos grandes campeões da Cristandade).
| Rei Redbad | 
Os Burgúndios também tentaram conquistar a Frísia, mas nunca conseguiram (ou nunca dispuseram de homens suficientes) para propriamente ocupá-la, de forma que a Frísia permaneceu por muito tempo relativamente livre, com seu sistema social de homens livres e comunidades autônomas funcionando de maneira normal.
Foi por volta de 1500, com uma invasão alemã (mercenários atuando sob a alcunha de "A Companhia Negra") financiada pelos burgúndios, que Grutte Pier iniciou uma revolta camponesa, apoiado pelo Duque de Guelders. A revolta de Grutte Pier se estendeu até mesmo por território holandês, e algumas cidades e fortalezas litorâneas foram pilhadas e conquistadas. Entretanto, tal esforço não conseguiu ser sustentado por muito tempo, e eventualmente a Frísia foi conquistada pelos Habsburgos (por volta de 1524).
Grutte Pier, conforme já escrevi neste blog, não morreu em batalha: retirou-se, frustrado, da guerra, e morreu de causas naturais em sua própria casa, aos 40 anos de idade.
Até hoje o dialeto frísio é falado na região, e seus habitantes possuem bastante orgulho de suas origens e de sua história.
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Em um jogo de RPG:
- Obviamente a Frísia (assim como qualquer país, nação, etc.) pode ser usada como pano de fundo para um jogo com uma pegada mais histórica e realista - e a aventura poderia ser centrada em alguma invasão dos Burgúndios à Frísia, ou em alguma expedição de Grutte Pier.
- Em um jogo de Cthulhu Dark Ages, creio que as profissões mais plausíveis para PJs frísios seriam as seguintes: marinheiro, mercenário, mercador e fazendeiro;
- Em um jogo estilo AD&D, creio que PJ frísios combinem mais com as classes guerreiras (Guerreiro, Paladino, Vingador, Bárbaro, etc.)
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