quarta-feira, 23 de abril de 2025

Sobre o dinheiro nos RPG e o uso de "seguidores" e "bases"

Esse é um aspecto um tanto quanto inexplorado do AD&D (ao menos na minha experiência como jogador e como mestre), e me parece ser uma  boa ponte entre RPGs e seus ancestrais, os wargames.

A construção de bases e o recrutamento de seguidores, conforme avança o nível do personagem do jogador, mostra uma faceta mais rica em detalhes da evolução de um aventureiro: começando geralmente sem posses ou pobre, ele se desenvolve e se transforma, através do acúmulo de experiência e de tesouros angariados em inúmeras aventuras, em um pequeno senhor local, com um castelo, fortaleza, mansão e até mesmo um grupo de seguidores (vassalos, soldados, aprendizes, criados, etc.). 



Isto poderia ser mais explorado em jogos porque é um aspecto interessante e geralmente ignorado: administração de (mais) recursos - não só as armas e itens que os PJ sempre carregam, mas também dinheiro, homens, terras, etc.

(Salvo engano, o RPG Pendragon tem essa mecânica de administração da propriedade do personagem do jogador - acho que chamam essa parte do jogo de "fase de inverno", talvez porque no inverno na Inglaterra não havia torneios, por exemplo) 




Além disso, os seguidores, enviados para cumprir missões para o PJ, poderiam eventualmente se tornar também PJs do mesmo jogador, ou de outros que entrassem no grupo. Talvez pudessem ser usados para substituir personagens que morriam (lembre-se de que estamos falando da época em que RPGs eram difíceis, e não simuladores de super-herói da marvel que nem os de hoje em dia!)

Assim como o D&D nasceu do Chainmail com a idéia de "vou interpretar aquele soldado ali", isto poderia ser uma maneira de fazer o caminho inverso, e eventualmente partir de um cenário de RPG para jogar um wargame baseado nas posses de um PJ específico, que se tornou rico o suficiente para comprar terras, construir um castelo e recrutar um exército e, digamos, desafiar o rei goblin que vive em uma montanha próxima em uma batalha em campo aberto contra suas hostes goblinídeas.

Outra vantagem é dar um uso para os tesouros angariados em aventuras e que muitas vezes não têm propósito (normalmente os jogadores só dão valor para armas e itens mágicos obtidos nas aventuras e não para o dinheiro, que costuma ser ignorado, conforme já mencionei em outro post aqui do blog) - e realmente nos tempos atuais de "D&D"5e, com seu público-alvo de imaginação superexcitada por MMORPGs e receptores de dopamina já viciados, o dinheiro no RPG geralmente não serve para nada, tendo em vista que hoje em dia desde o nível 1 praticamente todo PJ já é uma máquina de matar e já possui espadas lendárias no arsenal e seu nome já é conhecido no reino. 

Mas divaguei. Retomando o raciocínio: o dinheiro geralmente não tem muito uso para os jogadores. Talvez os mais adeptos do role play usem o dinheiro angariado nas aventuras para, digamos, subornar guardas e outras autoridades encontradas nas aventuras (principalmente humanos, anões e goblins - acho que elfos só seriam subornáveis com jóias ou itens mágicos,  e não por dinheiro!). Mas creio que mesmo tais jogadores sejam raros hoje em dia. E de certa forma não os culpo. Às vezes o dinheiro no RPG parece mesmo ser uma mecânica meio solta, pelo simples fato de que geralmente consegue-se encontrar tudo o que é necessário explorando dungeons e matando monstros. Até nos RPG de videogame tem uma hora que o personagem é tão poderoso que o dinheiro fica irrelevante porque não tem mais nada sendo vendido em lojas que valha a pena ser comprado- geralmente as armas mais poderosas são loot!


Assim, para dar uma utilidade maior para a mecânica do dinheiro em um jogo de RPG, acho que seria uma experiência bastante interessante um PJ ou até mesmo um grupo de PJs se juntando e dando uso para o dinheiro acumulado nas aventuras para contratarem seguidores, soldados, construtores e se tornarem senhores feudais, por exemplo. 

Daria muito pano para manga até para outros jogos.


O que os confrades que leem o blog acham?

Usavam a mecânica de seguidores e bases do AD&D?

O dinheiro era útil nas aventuras que vocês jogavam?



terça-feira, 8 de abril de 2025

Reinos Esquecidos - Leão

 



Leão foi um reino da Península Ibérica, fruto das Guerras de Reconquista, o qual existiu de 910  até 1230, quando foi absorvido pela última vez pelo Reino de Castela (mas, formalmente, só deixou de existir como "reino" em 1833 - durante todo este tempo os reis da Espanha possuíam, em seus títulos, o de "rei de Leão"!). 

Seu território abrangia o norte de Portugal e o Noroeste da Espanha (em suas constituições atuais).





Sua história foi relativamente breve e muito conturbada, marcada por várias guerras fratricidas - o território de Leão foi alvo de muitas disputas entre herdeiros reais dos reinos de Castela,  Galícia e Astúrias e em diversas ocasiões  de sua história, Leão fez parte do Reino de Castela e do Reino de Galiza.

A origem do reino, ao menos de sua configuração territorial, foi por ocasião da transferência da capital do reino das Astúrias de Oviedo para a cidade de Leão, o que lhe conferiu maior importância política e plantou as sementes do futuro reino. 

Seu primeiro rei foi Garcia I, filho de Afonso Magno, rei das Astúrias. Quando da morte de Afonso Magno, o reino das Astúrias foi dividido entre seus herdeiros, tendo Leão ficado para Garcia, Astúrias para Froila e a Galiza para Ordonho II.



Além das guerras civis entre herdeiros dos tronos ibéricos, o reino de Leão também enfrentou as ameaças dos mouros (dos vários califados e taifas islâmicos da península Ibérica) e até mesmo uma invasão viking: por volta do ano de 968 uma frota de 100 navios noruegueses, liderados por um certo Gundrod (possivelmente um irmão do rei Harald II, da Noruega) se instalou na costa da Galícia e durante três anos saqueou e pilhou diversas cidades, alcançando Compostela e assassinando o bispo Sisnando Menendez, responsável pela defesa da cidade. Os vikings foram finalmente derrotados por um exército trazido pelo Conde Gonzalo Sánchez em 970. Gundrod e seus guerreiros remanescentes foram executados pelo conde após a batalha, e seus navios foram incendiados. Poucas invasões vikings ocorreram depois disso, e nenhuma tão bem-sucedida quanto a Gundrod.


Quanto às guerras contra os mouros, é digno de nota que, em 1085, após um cerco que durou cerca de 2 meses, Alfonso VI, rei de Leão e Galícia, conquistou a cidade de Toledo - esta foi a primeira cidade importante tomada dos muçulmanos no contexto da Reconquista, marcando o começo da expansão territorial dos reinos ibéricos e da retração de Al-Andalus.

Curiosamente, o mesmo Alfonso VI foi quem indicou Henrique da Borgonha (Burgúndia) para ser o Conde de Portugal (na época Portugal era apenas o Condado Portucalense). Henrique foi o pai de D. Afonso Henriques, o primeiro rei dos portugueses e, portanto, "bisavô" do Brasil.


O último rei de Leão, como um reino independente, foi Alfonso IX. Em seu reinado foi fundada a Universidade de Salamanca e as Cortes de Leão, o primeiro parlamento europeu com representação da população comum.

Com a morte de Alfonso IX, seu filho Fernando III, o rei de Castela, invadiu o reino de Leão e o anexou. O povo leonês não aceitou a dominação por Castela, e Fernando III precisou enfrentar alguns anos de revoltas e guerras de secessão. 

Com o passar dos anos, a importância política de Castela foi crescendo e suplantando a de Leão (fato reforçado pelo predomínio da língua Castelhada sobre a língua Leonesa). Entretanto, por muitos anos ainda os dois reinos, embora unidos sob um mesmo monarca, manteriam moedas, leis e parlamentos distintos. Isto durou até a unificação nacional espanhola, na era moderna.

Atualmente, Leão faz parte da Comunidade Autônoma de Castela e Leão, no noroeste da Espanha.